Sexta, 10 De Janeiro De 2025
       
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Um gesto de grandeza de Valadares Filho


Publicado em 07 de agosto de 2020
Por Jornal Do Dia


 

Os gestos de renúncia pessoal em favor de projetos coletivos costumam despertar confiabilidade e simpatia
* Antonio Passos
O Brasil passava por um processo de redemocratização. Após décadas sem eleições a nação voltaria a eleger o presidente da república. Havia uma expectativa de que líderes que haviam sido enxotados do país pelos governos militares voltassem a assumir a liderança da condução política por meio do voto. Não foi o que aconteceu. Quando as urnas foram abertas, após o primeiro turno das eleições de 1989, restaram alçados para prosseguir na disputa dois candidatos que não tinham expressão pública antes de 1964: em primeiro lugar ficou Fernando Collor de Mello e em segundo Luís Inácio Lula da Silva.
A terceira posição, com menos de 1% de votos atrás do segundo colocado, foi ocupada por Leonel Brizola – o primeiro da lista com atuação política e conquistas eleitorais anteriores ao tempo da interrupção democrática. Na época a distinção entre as atuações políticas de "esquerda" e "direita" era mais enfatizada que hoje. Porém, como continua acontecendo, em cada grande aglomerado havia gradações: tanto de um lado quanto do outro podiam ser identificados posicionamentos mais extremados e outros que tendiam para o centro. Brizola era um nacionalista radical e, por isso, era amiúde rotulado como extremista.
Lula apresentou-se então como uma nova liderança política, forjada nas lutas do movimento sindical e acolhida com entusiasmo entre simpatizantes e divulgadores das teorias sociais de inspiração marxista. Na Universidade Federal de Sergipe, por exemplo, um ambiente que eu vivenciava como estudante, era explícita a forte adesão de professores e do movimento estudantil ao candidato do Partido dos Trabalhadores. Além de Brizola e Lula, ambos rotulados como extremistas, eram ainda identificados mais alguns nomes e partidos com alguma proximidade com a esquerda, estes de centro-esquerda, entre os quais: Ulysses Guimarães (PMDB) e Mário Covas (PSDB).
Entre o primeiro e o segundo turno o então candidato abatido Leonel Brizola anunciou uma proposta desconcertante. O fundador e líder maior do PDT dizia não haver chance para Lula – devido à inexperiência eleitoral e ao isolamento político-partidário – vir a derrotar Collor no segundo turno. Assim, propôs Brizola a renúncia coletiva dele e de Lula em favor de Mário Covas para enfrentar Fernando Collor. A proposta de Brizola foi rejeitada, mas, a previsão anunciada por ele aconteceu: Collor foi eleito presidente.
Embora caibam inúmeras outras interpretações possíveis, acredito que todo gesto de renúncia, quando é assumido livremente, contém alguma grandeza. Neste caso específico, grandeza política. Resgatei a narrativa que aqui encerro para traçar uma distante comparação entre aqueles fatos e o recente anúncio feito pelo político sergipano Valadares Filho – desistindo de candidatar-se a prefeito em favor da estreante Danielle Garcia.
Até a semana passada eu diria que a eleição majoritária de 2020 em Aracaju, ocorrendo, seriam "favas contadas". Ainda mais neste cenário dramático de pandemia, no qual a própria realização da eleição esteve (ou talvez ainda volte a ser) ameaçada, eu não enxergava nenhuma chance para que qualquer candidato viesse a ameaçar a reeleição do prefeito Edvaldo Nogueira. Contudo, avalio que a iniciativa de Valadares Filho revaloriza o cenário, pois, os gestos de renúncia pessoal em favor de projetos coletivos costumam despertar confiabilidade e simpatia.
* Antonio Passos é jornalista

Os gestos de renúncia pessoal em favor de projetos coletivos costumam despertar confiabilidade e simpatia

* Antonio Passos

O Brasil passava por um processo de redemocratização. Após décadas sem eleições a nação voltaria a eleger o presidente da república. Havia uma expectativa de que líderes que haviam sido enxotados do país pelos governos militares voltassem a assumir a liderança da condução política por meio do voto. Não foi o que aconteceu. Quando as urnas foram abertas, após o primeiro turno das eleições de 1989, restaram alçados para prosseguir na disputa dois candidatos que não tinham expressão pública antes de 1964: em primeiro lugar ficou Fernando Collor de Mello e em segundo Luís Inácio Lula da Silva.
A terceira posição, com menos de 1% de votos atrás do segundo colocado, foi ocupada por Leonel Brizola – o primeiro da lista com atuação política e conquistas eleitorais anteriores ao tempo da interrupção democrática. Na época a distinção entre as atuações políticas de "esquerda" e "direita" era mais enfatizada que hoje. Porém, como continua acontecendo, em cada grande aglomerado havia gradações: tanto de um lado quanto do outro podiam ser identificados posicionamentos mais extremados e outros que tendiam para o centro. Brizola era um nacionalista radical e, por isso, era amiúde rotulado como extremista.
Lula apresentou-se então como uma nova liderança política, forjada nas lutas do movimento sindical e acolhida com entusiasmo entre simpatizantes e divulgadores das teorias sociais de inspiração marxista. Na Universidade Federal de Sergipe, por exemplo, um ambiente que eu vivenciava como estudante, era explícita a forte adesão de professores e do movimento estudantil ao candidato do Partido dos Trabalhadores. Além de Brizola e Lula, ambos rotulados como extremistas, eram ainda identificados mais alguns nomes e partidos com alguma proximidade com a esquerda, estes de centro-esquerda, entre os quais: Ulysses Guimarães (PMDB) e Mário Covas (PSDB).
Entre o primeiro e o segundo turno o então candidato abatido Leonel Brizola anunciou uma proposta desconcertante. O fundador e líder maior do PDT dizia não haver chance para Lula – devido à inexperiência eleitoral e ao isolamento político-partidário – vir a derrotar Collor no segundo turno. Assim, propôs Brizola a renúncia coletiva dele e de Lula em favor de Mário Covas para enfrentar Fernando Collor. A proposta de Brizola foi rejeitada, mas, a previsão anunciada por ele aconteceu: Collor foi eleito presidente.
Embora caibam inúmeras outras interpretações possíveis, acredito que todo gesto de renúncia, quando é assumido livremente, contém alguma grandeza. Neste caso específico, grandeza política. Resgatei a narrativa que aqui encerro para traçar uma distante comparação entre aqueles fatos e o recente anúncio feito pelo político sergipano Valadares Filho – desistindo de candidatar-se a prefeito em favor da estreante Danielle Garcia.
Até a semana passada eu diria que a eleição majoritária de 2020 em Aracaju, ocorrendo, seriam "favas contadas". Ainda mais neste cenário dramático de pandemia, no qual a própria realização da eleição esteve (ou talvez ainda volte a ser) ameaçada, eu não enxergava nenhuma chance para que qualquer candidato viesse a ameaçar a reeleição do prefeito Edvaldo Nogueira. Contudo, avalio que a iniciativa de Valadares Filho revaloriza o cenário, pois, os gestos de renúncia pessoal em favor de projetos coletivos costumam despertar confiabilidade e simpatia.

* Antonio Passos é jornalista

 

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