Domingo, 20 De Abril De 2025
       
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UM OLHAR À DERIVA


Publicado em 15 de março de 2025
Por Jornal Do Dia Se


De acordo com as estatísticas oficiais, Aracaju tem uma população estimada em mais de 600 mil habitantes (Divulgação/SSP)

Um olhar à deriva

 

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

 

“Aracaju é fartura de luz”. A admiração de Jeová Santana, um observador arguto, com laços atados entre o coração de poeta e a atmosfera sempre clara da capital sergipana, encontrou numa impressão luminosa o artifício mais adequado para trazer o próprio deslumbramento à flor da palavra. De fato, há poucos lugares no mundo onde o sol arde assim, com toda a força, o ano inteiro.
Justo como uma redondilha de cordel, o verso de Jeová evoca, no entanto, apenas um aspecto do lugar – o mais caro à alegria de sua pele bronzeada, talvez. Sim, Aracaju é fartura de luz, como ele diz. E ainda mais.
É próprio da realização artística isso de buscar um dado sensível, entre outros, ater-se a um recorte. Mas o ponto de vista salientado por um ente enunciador não tem de negar o todo. Sem a pretensão de totalidade dos relatos mais objetivos, o olhar deriva e, por vezes, captura algo antes despercebido, também ele capturado. No mosaico dos instantes que perduram, inflama-se a fagulha capaz de atear fogo nas catedrais.
Sim, Aracaju é diversa, como já foi salientado no roteiro afetivo e afetuoso de Mario Cabral. A luz farta, no entanto, banha toda a cidade. Tanto na beira, como à sombra do cartão postal.

600 mil corações – De acordo com as estatísticas oficiais, Aracaju tem uma população estimada em mais de 600 mil habitantes. Trata-se, portanto, de uma cidade de médio porte, menina moça, com todas as curvas e feridas de sua condição.
A geografia da cidade é diversa. Entre Aruana e Siqueira Campos, Cidade Nova e Mosqueiro, contudo, centenas de milhares de corações batem igual.
Aracaju é também a sua gente. Toda a sua gente. O trabalhador que corre para pegar o busão empresta a sua face para as feições do lugar. Os meninos jogando bola, o preto capoeirista, também. Quem dá duro sem perder o sorriso no rosto; quem transpira de sol a sol e passa o dia inteiro correndo de um lado para o outro, em busca do pão; quem enfrenta o mar logo cedo; quem brinca ou vai à praia; homens e mulheres fazem de Aracaju um lugar de gente trabalhadora e feliz.

Água mole em pedra dura – Com território de 182.163 km², Aracaju é uma cidade banhada em água fresca. O saudoso jornalista Cleomar Brandi já chamou atenção para a felicidade de ter o rio ali, margeando a cidade, o mar sempre à mão, em uma crônica sentimental, premiada pelo poder municipal. O velho lobo voltaria ao tema, no entanto. Desta vez, ele já não gasta tinta e papel com a pieguice do primeiro texto. O tom muda, mas a constatação é ainda a mesma, a sorte grande de viver na terra dos cajueiros e papagaios, sob um signo de origem tupi.
“Situada em local privilegiado, junto ao mar, cercada de rios, a bela capital ainda mantém longe muito dos problemas comuns às grandes cidades. Aqui, o cidadão ainda pode dispor de lugares para estacionar seu veículo num domingo ensolarado em trechos das praias situadas ao longo da Rodovia José Sarney. Mas, em alguns lugares domingueiros e praianos, como a Aruana, já se começa a perceber falta de vagas. Mesmo assim, ainda existem quilômetros de praias onde se pode sentar num barzinho sem traumas de engarrafamentos, abrir uma cerveja bem gelada, traçar um pirão de caranguejo e olhar pro mar, guardando aquele suspiro com ares de contemplação”.
De fato, as dores do crescimento abrem feridas na paisagem de Aracaju – mais das vezes, um processo inevitável, talvez, dadas as condições observadas aqui e agora. Estas, contudo, jamais se sobrepõem à ventura de molhar a vista num veio de água corrente, em breve movimento de cabeça. Apesar da “feia fumaça que sobe e apaga as estrelas”. Apesar de todos os pesares. Sobressai, sempre, o privilégio de uma brisa boa traduzida em qualidade de vida, como cantou Ismar Barreto em ‘Viver Aracaju’.

Falando em música – Irmão e Alcides Melo cantaram o lado B da cidade, como mais ninguém. De bem com a vida, Ismar Barreto louvou a brisa leve que sopra nos botecos, à beira mar, como já foi dito. O conjunto Cataluzes aconselhou a fruição do horizonte aberto à vista. Num passeio lírico, o seu melhor momento, Paulo Lobo tropeçou nas Ruas de Ará.
A geografia da pequena inspirou todo tipo de manifestação artística, Tintiliano e Edidelson Silva que o digam.
A cidade que empresta curvas líricas às crônicas incomparáveis de Amaral Cavalcante também se presta ao olhar inclemente de Newman Sucupira. Em boa Literatura, a pequena também se mostra entre os pontos e vírgulas dos contos assinados por Antonio Carlos Viana, no clássico trabalhista de Amando Fontes. A cidade é tão múltipla quanto é múltiplo o olhar lançado por sua gente sobre as suas esquinas.
Aracaju em verso, prosa, melodia, impressões, gestos, brincadeira, trabalho duro. Como na síntese realizada no auge da naurÊa, quando tudo parecia possível e a música pop cirandeira Serigy chegou a reverberar mundo afora, ganhando ares de mainstream. O aracajuano é feliz por natureza.
“Vivo só brincando”, canta-se desde o 17 de março até o Bairro Industrial, pulmões inflados. E, aqui, só se sabe viver assim.

Confira a programação dos 170 anos de Aracaju

 

15/03/2025 – Sábado | Orla de Atalaia

18h – DJ Abençoadão (SE)
19h – Juninho Alê (SE)
21h – Cleyton Queiroz (SP)
23h – Fernanda Brum (RJ)

16/03/2025 – Domingo | Orla de Atalaia

19h – Samba Arnesto (SE)
21h – Nona (SE)
23h – Raça Negra (SP)
01h – Joelma (PA)

17/03/2025 – Segunda-feira | Praça Fausto Cardoso

17h – Orquestra Sanfônica de Aracaju (SE)
18h – ZEQ’ OLLIVER (SE)
19h – Mestrinho & Mariana Aydar (SE/SP)

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