Uma assombração de mau gosto

O golpista Jair Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia das mais delicadas. Foram doze horas à mesa, com a vida por um fio. Longe de mim, torcer pelo pior, desejar a morte daquele que fez pouco caso das vidas ceifadas durante a pandemia de covid. Cada nova intervenção médica evoca, no entanto, uma imagem capaz de tumultuar o sono dos justos.

Volto a Bolsonaro, ansioso por virar essa página, provocado por uma assombração de mau gosto. O comércio corrupto da família e seus subordinados não me assusta, sucede diversos episódios admitidos como vícios ordinários da República. O pior do bolsonarismo, contudo, insiste em me ferir os olhos e os ouvidos.

Em ocasião de cirurgia anterior, o deputado federal Eduardo Bolsonaro divulgou o lançamento de um calendário com fotos de Jair Bolsonaro. Na capa, o ex-presidente sem camisa exibe a cicatriz no abdômen gerada pelo atentado sofrido durante a campanha eleitoral de 2018. O deputado alegou, então, que as imagens expressam a “trajetória vitoriosa” do papai.

Faço força para não ceder à tentação de aderir às teorias da conspiração. Para todos os efeitos, Bolsonaro teve mesmo o bucho rasgado por um justiceiro de munheca mole.

Mas, verdade seja dita: a sanha criminosa de um tresloucado fez dele um presidente sem escrúpulos para escamotear a verdade. Não um Davi de Michelângelo. Não um perseguido político. Jamais um injustiçado.