Anne Carol no Projeto Verão 2023: Os palcos mais altos da aldeia. Foto: Foto: Michel de Oliveira/PMA.
Uma mácula
Publicado em 10 de outubro de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br
Os calos da criação, a vivência indispensável a um artista de marca maior, raramente recebem recompensa à altura do investimento realizado pelo ente enunciador de determinado discurso. Mais das vezes, o tal do sucesso é uma miragem, um destino improvável, a sombra boa de uma árvore magra ao fim de um longo caminho de pedras, sob sol escaldante.
A história de Anne Carol é diferente. Cantora e compositora ainda muito jovem, ela já ganhou os palcos mais altos da aldeia, embora tenha gravado apenas um álbum — ‘Semblantes’ (2023), aplaudido aqui mesmo nesta página.
Ela, uma mulher negra, certamente comeu o pão que o diabo amassou até descobrir a força para fazer sua voz reverberar assim tão longe, tão bonito, como faz agora. Mas o retorno pretendido chegou rápido, como um raio, fulgurante.
Por tudo o que aqui ganha relevo, o talento e a biografia da moça, o trabalho de Anne Carol não merecia a mácula indesejável de uma acusação de plágio. No entanto, segundo o também cantor e compositor Fabrício Mangaio, ela se apropriou de uma composição sua na mão grande, à revelia de qualquer colaboração entre as partes.
No disco de Anne Carol, a composição supostamente subtraída a Mangaio ganhou o nome de ‘Tudo que virá’. Na gravação dele, a canção é chamada ‘Janeiro’. À parte o batismo e os arranjos das duas faixas, tudo o mais é igual, um decalque. Ele registrou e lançou a música primeiro.
Mangaio está revoltado. Segundo o artista, houve a tentativa de resolver a questão de maneira amigável, extra-judicial. Após muita saliva jogada fora, evasivas, subterfúgios, no entanto, ele se vê constrangido a levar o caso às barras da Justiça.
“Eu sou o único dono dessa canção. Quem a pariu fui eu”, ele justifica.
Há razões de ordens diversas para que o autor de ‘Janeiro’ busque a reparação que julga devida em âmbito legal, a começar pelo retorno pecuniário da canção. Músicas fazem dinheiro. Para Mangaio, no entanto, recuperar o crédito exclusivo de sua cria tem também um valor simbólico e didático, após tanto murro em ponta de faca. “Ninguém precisa passar por isso”.
O Jornal do Dia tentou entrar em contato com Anne Carol, por meio de número pessoal, além do e-mail de sua assessoria, divulgado nas redes sociais, sem sucesso. Mas permanece a disposição para qualquer esclarecimento.