Uma questão bizantina
Publicado em 19 de outubro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
* Antonio Samarone
Felizmente, a história não tem donos! Um mesmo personagem histórico, pode ser vilão ou herói, dependendo da visão de quem interpreta. Inclusive, com o tempo, se pode passar de vilão a herói e vice-versa.
Vou tentar responder à questão bizantina: quando devemos comemorar o nascimento de Itabaiana, qual a data do seu aniversário?
Oficialmente, o aniversário de Itabaiana é 28 de agosto, feriado municipal. Alguns historiadores entenderam que Itabaiana nasceu, quando foi elevada à categoria de cidade, em 28 de agosto de 1888, através da lei provincial n.º 1331.
Outros, preferem estabelecer o nascimento de Itabaiana em 1698, na data da criação da Villa de Santo Antonio e Almas, pela Coroa Portuguesa.
Quais os critérios dessas escolhas? Não sei!
A existência do Arraial de Santo Antonio e Almas é anterior a essas datas. Segundo o historiador Almeida Bispo, entre 1590 e 1623, foram doadas 18 sesmarias, no território denominado Itabaiana. Quando eles chegaram?
Em 1665, os colonos assentados em Itabaiana, criaram uma confraria: a Irmandade das Santas Almas do Purgatório, para adquirirem um terreno e instalarem a Villa. O terreno foi comprado, e o Dr. Vladimir Carvalho já publicou as escrituras.
A comunidade de Itabaiana já existia organizada, anterior as datas propostas. Porque só iriamos nascer quando reconhecida como Villa, pela Coroa Portuguesa. Dirão os positivistas: o que determina a existência de uma comunidade é um decreto real. Discordo!
Mas vamos seguir a regra.
Em 30 de outubro de 1675, o arcebispo de Salvador, Dom Gaspar Barata de Mendonça, criou uma Paróquia no Arraial de Santo Antonio e Almas de Itabaiana. Com documentos passados e encontrados nos arquivos da Bahia. Itabaiana foi a segunda Paróquia de Sergipe, sendo antecedida apenas pela Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, em São Cristóvão.
No próximo 30 de outubro, a Paróquia de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, com a Prefeitura Municipal, vão instalar o 7º Jubileu de Ouro da Paróquia e do município, a ser comemorado durante o ano de 2025.
Nessa data, teremos uma missa festiva, as 16 horas e um concerto com a centenária Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, as 17 horas. Não se pode ignorar um aniversário de 350 anos.
Eu sei, o Arraial de Santo Antonio e Almas já existia no Vale do Jacarecica, antes da criação da Paróquia. Arqueologicamente, a igreja velha está lá de prova. Entretanto, a primeira instituição a ser instalada, foi a Paróquia.
Tem mais:
Em 1675, com a compra do terreno pela Irmandade das Almas, a sede do Arraial saiu do Vale do Jacarecica e veio para o Tabuleiro de Aires da Rocha, onde se encontra hoje. Aliás, sabe-se que essa mudança teve o dedo de Santo Antonio, que fugia da igreja velha para o pé de quixabeira.
A bispado na Bahia, não criaria uma freguesia (paróquia), se não existisse uma comunidade assentada. A confusão é pensar que a realidade só existe, por força de éditos reais. Itabaiana fugiu a regra. A igreja antecedeu a câmara municipal.
Muitas cidades nascem em torno de uma fortaleza, porto, mercado, minas, colinas, quarteis, etc. Itabaiana nasceu em torno da Igreja de Santo Antonio e Almas.
Foi essa fé em Antonio quem nos guiou. A cidade dos milagres tem raízes profundas.
Se a escolha para o aniversário for entre a data da lei que transformou a Villa em Cidade (1888), a data do decreto real que criou a Villa (1698), ou a data da criação da Paróquia de Santo Antonio e Almas (1675), não tenho dúvidas, nascemos espiritual e culturalmente, com a igreja.
Se soubéssemos a data da chegada da primeira família portuguesa, para ocupar a sua sesmaria e plantar os primeiros pés de cebolas, essa seria a data do nascimento. Como não se sabe, vamos comemorar com a igreja, o 7º Jubileu de Ouro (350 anos).
* Antonio Samarone, secretário de Cultura de Itabaiana