Domingo, 12 De Janeiro De 2025
       
**PUBLICIDADE
Publicidade

Uma tarde com Albano Franco


Publicado em 18 de dezembro de 2020
Por Jornal Do Dia


 

* Carlos Cauê
Na hospitaleira tarde de onze de dezembro, sob a gentileza anfitriã de Reinaldo Moura, que reuniu um pequeno grupo de pessoas para festejar seu aniversário, tudo devidamente dentro dos cuidados que os tempos exigem, nos deparamos, sentado com a elegância dos seus oitenta anos recém completados, com Albano Franco. 
A sua presença, claro, já rivalizando em popularidade com o aniversariante, causava frisson aos passantes. Todos a comentar: olhe ali, é doutor Albano! 
E ele, com o cavalheirismo que já lhe distinguiu entre sergipanos e brasileiros, trocava cumprimentos gentis, acenava fagueiro para os circunstantes e enchia o ambiente de uma notoriedade, que só um homem que presidira a Confederação Nacional da Indústria por quatorze anos, fora senador da República por dois mandatos, deputado federal, e governador de Sergipe por duas vezes, poderia emprestar ao ambiente daquele salão de festa.
Acheguei-me à sua mesa, cumprimentamo-nos, trocamos uma ou outra conversa e eu me abanquei numa mesa próxima. Ele continuou seu ritual de beija mão, recebendo, à episódios, desde o irrequieto Reinaldo, que saltitava por entre as mesas conferindo seus convidados e felicitações, Kel, sua adorável e atenta esposa, a cuidar de tudo e de todos com esmero,  até curiosas senhoras e moças que, solenemente, revezavam-se carinhosas e respeitosas a ele, passando por fiéis amigos como Jorge Henrique Salário, o Salarinho, como nós o conhecemos, e uma legião de fotógrafos a disparar suas câmeras. Todos queriam desfrutar, nem que fosse um pouquinho, do patrimônio ali presente.
Pouco tempo depois, para frustração geral dos presentes, Albano levantou-se em gesto de partida e se foi. Soube depois que ele prometera a Reinaldo que regressaria. E regressou.
A tarde já havia cedido à noite e a festa já entrara no modo celebração quando ele voltou. Os discursos já haviam sido proferidos, as juras entre Reinaldo e Kel já haviam sido, novamente, entrelaçadas. E agora, para satisfação geral minha, de Luciano Correia e Elton Coelho, o doutor Albano sentava-se à nossa mesa.
Em homenagem àquela presença impoluta, pedi meu primeiro uísque para acompanhar o primeiro dele. Elton e Luciano, claro, já iam lá pelo quinto ou sexto, e iniciamos um agradável e histórico bate papo. 
Albano sorvia sua bebida em golinhos preciosos e exatos, sua voz fluía na frequência educada e conhecida, seu pensamento agudo, atento. O tirocínio em dia. 
Falamos de tudo. Nós, os novatos, reverenciando a estatura do homem ao nosso lado, fizemos questão de relembrar sua passagem pela CNI, sua altiva e democrática condução da TV Sergipe, seu produtivo mandato no Senado e, finalmente, o valor de seus dois governos para Sergipe: democrático, tolerante, inovador. 
Luciano registrou o fato de que, mesmo egresso da esquerda e militante na época, isso nunca foi empecilho para o seu trabalho de jornalista e apresentador na TV Sergipe. Eu recordei uma passagem durante sua campanha de governador, em 1998, em que fiz ir ao ar, num dos programas de TV, um vídeo com uma fala de seu pai, ex-governador Augusto Franco, e a contrariedade que isso inicialmente provocou nele, pois se recusava a utilizar-se da figura do pai para auferir dividendos eleitorais. O imbróglio foi esclarecido com a cautelosa e sensata intervenção de Theotônio Neto, que explicou que o vídeo não se destinava e nem servia a esse propósito, mas emoldurava o final daquela campanha com uma homenagem legítima e delicada demonstração de amor filial. 
Ele nos disse as três cidades que mais gosta, pela ordem, Aracaju, Rio de Janeiro e Paris, e lamentou não ter ido à cidade luz este ano, por motivos diversos. Revelou que Roberto Marinho o desaconselhou a disputar as eleições para governador, lembrando-o da importância, abrangência e papel nacional que tinha a CNI. E com a alma exultante, doutor Albano nos disse que uma das suas maiores felicidades é não ter construído inimigos durante a vida.
A essas alturas, nós, os novatos, já éramos três tietes escancarados. Ele, percebendo que o cansaço e o sono assaltava irremediavelmente o Salarinho, chamou o amigo à partida e deixou-nos com seu rastro de sabedoria. 
Terminamos nossos copos e nos despedimos de Reinaldo. Nada mais havia a querer daquele dia.
* Carlos Cauê, publicitário e jornalista, é secretário de Comunicação da PMA

* Carlos Cauê

Na hospitaleira tarde de onze de dezembro, sob a gentileza anfitriã de Reinaldo Moura, que reuniu um pequeno grupo de pessoas para festejar seu aniversário, tudo devidamente dentro dos cuidados que os tempos exigem, nos deparamos, sentado com a elegância dos seus oitenta anos recém completados, com Albano Franco. 
A sua presença, claro, já rivalizando em popularidade com o aniversariante, causava frisson aos passantes. Todos a comentar: olhe ali, é doutor Albano! 
E ele, com o cavalheirismo que já lhe distinguiu entre sergipanos e brasileiros, trocava cumprimentos gentis, acenava fagueiro para os circunstantes e enchia o ambiente de uma notoriedade, que só um homem que presidira a Confederação Nacional da Indústria por quatorze anos, fora senador da República por dois mandatos, deputado federal, e governador de Sergipe por duas vezes, poderia emprestar ao ambiente daquele salão de festa.
Acheguei-me à sua mesa, cumprimentamo-nos, trocamos uma ou outra conversa e eu me abanquei numa mesa próxima. Ele continuou seu ritual de beija mão, recebendo, à episódios, desde o irrequieto Reinaldo, que saltitava por entre as mesas conferindo seus convidados e felicitações, Kel, sua adorável e atenta esposa, a cuidar de tudo e de todos com esmero,  até curiosas senhoras e moças que, solenemente, revezavam-se carinhosas e respeitosas a ele, passando por fiéis amigos como Jorge Henrique Salário, o Salarinho, como nós o conhecemos, e uma legião de fotógrafos a disparar suas câmeras. Todos queriam desfrutar, nem que fosse um pouquinho, do patrimônio ali presente.
Pouco tempo depois, para frustração geral dos presentes, Albano levantou-se em gesto de partida e se foi. Soube depois que ele prometera a Reinaldo que regressaria. E regressou.
A tarde já havia cedido à noite e a festa já entrara no modo celebração quando ele voltou. Os discursos já haviam sido proferidos, as juras entre Reinaldo e Kel já haviam sido, novamente, entrelaçadas. E agora, para satisfação geral minha, de Luciano Correia e Elton Coelho, o doutor Albano sentava-se à nossa mesa.
Em homenagem àquela presença impoluta, pedi meu primeiro uísque para acompanhar o primeiro dele. Elton e Luciano, claro, já iam lá pelo quinto ou sexto, e iniciamos um agradável e histórico bate papo. 
Albano sorvia sua bebida em golinhos preciosos e exatos, sua voz fluía na frequência educada e conhecida, seu pensamento agudo, atento. O tirocínio em dia. 
Falamos de tudo. Nós, os novatos, reverenciando a estatura do homem ao nosso lado, fizemos questão de relembrar sua passagem pela CNI, sua altiva e democrática condução da TV Sergipe, seu produtivo mandato no Senado e, finalmente, o valor de seus dois governos para Sergipe: democrático, tolerante, inovador. 
Luciano registrou o fato de que, mesmo egresso da esquerda e militante na época, isso nunca foi empecilho para o seu trabalho de jornalista e apresentador na TV Sergipe. Eu recordei uma passagem durante sua campanha de governador, em 1998, em que fiz ir ao ar, num dos programas de TV, um vídeo com uma fala de seu pai, ex-governador Augusto Franco, e a contrariedade que isso inicialmente provocou nele, pois se recusava a utilizar-se da figura do pai para auferir dividendos eleitorais. O imbróglio foi esclarecido com a cautelosa e sensata intervenção de Theotônio Neto, que explicou que o vídeo não se destinava e nem servia a esse propósito, mas emoldurava o final daquela campanha com uma homenagem legítima e delicada demonstração de amor filial. 
Ele nos disse as três cidades que mais gosta, pela ordem, Aracaju, Rio de Janeiro e Paris, e lamentou não ter ido à cidade luz este ano, por motivos diversos. Revelou que Roberto Marinho o desaconselhou a disputar as eleições para governador, lembrando-o da importância, abrangência e papel nacional que tinha a CNI. E com a alma exultante, doutor Albano nos disse que uma das suas maiores felicidades é não ter construído inimigos durante a vida.
A essas alturas, nós, os novatos, já éramos três tietes escancarados. Ele, percebendo que o cansaço e o sono assaltava irremediavelmente o Salarinho, chamou o amigo à partida e deixou-nos com seu rastro de sabedoria. 
Terminamos nossos copos e nos despedimos de Reinaldo. Nada mais havia a querer daquele dia.

* Carlos Cauê, publicitário e jornalista, é secretário de Comunicação da PMA

 

**PUBLICIDADE



Capa do dia
Capa do dia



**PUBLICIDADE


**PUBLICIDADE
Publicidade