Em ‘Whiplash’, tudo é pesado e tenso.
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Uma temporada no inferno
Publicado em 19 de janeiro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
A fauna nativa de Sundance, uma patotinha de nariz empinado e opiniões tão fortes quanto controversas, elegeu o melhor filme já exibido no festival, desde 1978. Segundo o crítico de echarpe e piteira pendurada no bico, ‘Whiplash: Em busca da perfeição’ (2015) tem mais qualidade do que ‘Cães de Aluguel’ (1993), o clássico pop de Tarantino, segundo colocado na peleja.
Eu não poderia discordar mais. Para mim, o laureado filme de Damien Chazelle é só um Karatê Kid de baquetas.
‘Whiplash’ não passa do investimento simbólico na fantasia ianque do self made man. Aqui, trabalho e dedicação são os únicos estágios anteriores ao sucesso. Para o Tio Sam é sempre simples assim.
A ambição de Andrew (Miles Teller) não é pequena. Sem o primeiro lugar no pódio, as munhecas esfoladas em sessões intermináveis de estudos redundam em coisa nenhuma. Não há alegria entre as quatro paredes do quarto onde ele passa os dias a golpear um kit de bateria, numa repetição sem fim. O exercício artístico é reduzido à competência. Sem o troféu de mais e melhor de todos os tempos, não há recompensa no horizonte.
Um tour de force que leva a lugar nenhum. Esqueçam a bravata de coloração holística segundo a qual o caminho importa mais do que o destino. Papo de hippie. Para Andrew, a glória é o norte, o sacrifício é atalho, a sensibilidade é o último recurso dos preguiçosos. Dá até pra imaginar o rapaz presidindo uma reunião do Partido Novo, ladeado por Romeu Zema.
Em ‘Whiplash’, tudo é pesado e tenso feito uma temporada no inferno, ou na caserna. Também pudera. Na orquestra da prestigiosa escola onde a trama se desenrola não há um único negro a mostrar que swing é uma aptidão da “pele”. Trocando em miúdos: Nem parece um filme ancorado num dos maiores standards do Jazz.