A fotografia grita
Vem das nuvens
Publicado em 15 de abril de 2021
Por Jornal Do Dia
Rian Santos
Aparentemente, meu pai frequentava as bodegas erradas. Menino, bebi muita espuma de cerveja, a fim de seguir os seus passos. Um violeiro afiado em redondilhas, coberto com a poeira das feiras, nunca encontrei.
O cordelista Eduardo Teles conta que escutou os primeiros versos na bodega da família. Pura sorte. Entre os sergipanos de gerações mais recentes, os livretos de impressão barata são como peças de museu, documentos estranhos ao ambiente doméstico, próprios de outro tempo.
Os cordelistas, no entanto, resistem, fazem versos sobre Deus e o mundo, firmes e fortes, feito Quixotes do sertão. Este, aliás, foi o mote adotado pelo realizador audiovisual Felipe Moraes no curta metragem ‘Dom Quixote sergipano’ (2018). Mais do que filmar uma entrevista das mais francas com o poeta à frente da editora artesanal Vem das Nuvens, o diretor enquadra o autor em seu habitat natural, num preto e branco repleto de beleza e de sentido. Entre todas as virtudes do documentário, a fotografia grita.
O filme está a disposição dos curiosos no AjuPlay, a plataforma de streaming da Funcaju. Breve, bem realizado, o filme articula um discurso completo em cada frame. Não há, ali, o que tirar, nem por. De frente para a lente, Eduardo canta, declama e filosofa a respeito de sua poética. Sem perdas de tempo. Sem artifícios. Sem desperdício.