Na fronteira, no limite.
Vem dos sonhos
Publicado em 29 de abril de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
Premiada por um curta-metragem exibido em Cannes, há poucos anos, Agustina San Martín tem razão de sobra para confiar no próprio taco. Foi assim, guiada pela intuição, que a diretora argentina realizou ‘Como matar a Besta’. Ela conta que muito da inspiração para seu longa de estreia veio dos sonhos. “Sempre tive sonhos memoráveis dos quais me lembro perfeitamente. E sempre deixo a porta aberta para eles, pois me mostram as coisas”.
‘Como matar a Besta’ tem como protagonista Emilia (a estreante Tamara Rocca), uma jovem de 17 anos que chega a uma cidade fortemente religiosa numa região fronteiriça em busca do irmão desaparecido, com quem tem questões pendentes. Nesta jornada, hospeda-se na casa de uma tia (Ana Brun), próxima a uma floresta onde, diz-se, uma fera apareceu semanas antes. Esta é a materialização de um homem mau que toma forma de diversos animais.
Para San Martín, seu filme é uma combinação de diversos elementos folclóricos e mitológicos da região norte da Argentina. “Sempre gostei de inventar mundos. Sempre achei a ficção mais empolgante do que a vida real, por isso sempre gostei de filmes de terror.”
O filme tem atraído a atenção desde quando foi exibido em Toronto, em outubro passado, e comparado à obra de David Lynch pelos seus aspectos fantásticos e surreais. A diretora se confessa uma cinéfila assistindo a filmes de todas as partes do mundo, e com o interesse de trabalhar em diversos países.
“Eu me recuso a ser uma única coisa. E, embora eu ame a Argentina e seu cinema, eu tento fazer o exercício de me imaginar não-argentina. Fazer filmes apenas em espanhol é uma limitação. Vejo filmes de diversos países, e eu amo o cinema exatamente por isso. Posso simpatizar com histórias e pessoas de outros lugares completamente diferentes de onde moro. Interessa-me muito explorar essas possibilidades, que são marcadas não necessariamente por ser argentina, mas por ser humana.”
A Região das Missões, no sul do Brasil e norte da Argentina, é um desses lugares inusitados que San Martín quis explorar. Ela já havia rodado três curtas no mesmo cenário, que diz amar. “Ali há tantos descendentes de tantos lugares, falando línguas, uma mistura de português com ucraniano e espanhol. É um lugar muito especial, do qual sou muito próxima.”
“Sempre gostei de ser muito barroca com os elementos de um filme. Quanto mais, melhor. Por isso, pensei na fotografia e no som muito peculiares para ‘Como matar a Besta’. Eu gostaria que isso pontuasse o que há de fantástico no longa. Sempre houve a intensão de algo fantástico, onírico de uma paisagem mística. Tentamos criar uma espécie de bruma envolvendo o lugar o tempo todo.”
‘Como matar a Besta’ é exibido pelo Cine Vitória em duas sessões: Hoje e domingo, às 17h15.