Veneno
Publicado em 28 de maio de 2019
Por Jornal Do Dia
Os diversos crimes cometidos pela mineradora Vale do Rio Doce não possuem precedente, soterraram cidades, poluíram rios e enterraram cidadãos. Apesar disso, homens do próprio governo se apressaram a lembrar os dividendos econômicos gerados pela empresa, em explicação involuntária de como a negligência chegou a tal extremo. Sem a omissão cúmplice do poder público, Mariana e Brumadinho não desapareceriam embaixo de lama.
Algo muito parecido se dá também com o agronegócio. Mais das vezes, o interesse dos grandes produtores rurais se sobrepõe ao que é justo, seguro e ecologicamente responsável. O uso indiscriminado dos defensivos agrícolas, um eufemismo para veneno, pode dar um fim trágico a populações inteiras.
Esta semana, o Ministério Público em Sergipe resolveu chamar o feito à ordem e abrigou uma reunião com o objetivo de discutir a instalação e um laboratório capaz de identificar resíduos de agrotóxicos em alimentos, no solo e na água potável. A intenção é controlar o uso dos referidos produtos químicos.
Antes tarde do que nunca. O uso de agrotóxicos atende a premissas de ordem exclusivamente econômicas, desconsiderando os danos ao meio ambiente e a saúde da população. O mal alcança diferentes grupos populacionais e trabalhadores em diversos ramos de atividades, moradores do entorno de fábricas e fazendas, além de todos os consumidores de alimentos contaminados. É triste, mas tais impactos, subordinados ao modelo de desenvolvimento desde sempre adotado pelo Brasil, voltado para a exportação de bens primários, ainda vai arrastar muita gente inocente pra baixo da terra.