Versos aos quatro ventos

Rian Santos

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Os poetas populares deveriam andar na boca do povo. A premissa do espetáculo ‘Mar de fitas, nau de ilusão’, com a assinatura inconfundível do grupo Imbuaça, advoga em favor do que há de mais genuíno em matéria de Cultura.

Admite-se, esta não é uma postura muito original, a lembrança de Ariano Suassuna não deixa ninguém mentir. No entanto, ao invés de chorar pitangas, comportamento de toda a gente, os atores reunidos no bairro Santo Antonio assumem eles mesmos a grata tarefa de espalhar versos, adereços e acordes aos quatro ventos.

No meio da rua, nas praças, nos melhores palcos, todo lugar serve ao teatro de inflexão popular. Apesar de eventualmente encenado entre quatro paredes, como eu o vi uma primeira vez, com cenário impecável e iluminação de primeira, o espetáculo ‘Mar de fitas…’ jamais peca por impor qualquer distância entre a experiência revivida pela trupe e o prezado público. Trata-se, antes, de uma grande brincadeira, uma festa repleta de cor, música, movimento.

O Imbuaça sempre me emociona. Recentemente, o grupo cometeu a imensa ousadia de dedicar um espetáculo a um poeta vivo, tão próximo de nós todos. ‘Jeová’, inspirado na obra de Jeová Santana, pronuncia uma afirmação de solidariedade aos descaminhos dos homens comuns, um solo de rangidos, os mesmos da poesia. ‘Os desvalidos’, ponto alto no repertório do grupo, baseado na obra de outro escritor, o gigante Francisco J. C. Dantas, com trilha sonora original assinada por Joésia Ramos, tem a sensibilidade esturricada do próprio sertão. Invariavelmente, nas montagens do Imbuaça, sobressai algo do caráter, história, as alegrias e o modo de ser dos sergipanos.

Para outra coisa não serve o teatro, além de levantar espelhos. Aqui ou em qualquer lugar do mundo, há mais de 40 anos, o Imbuaça trata sempre de nós mesmos.

Esta semana, o grupo sediado no alto da colina voltou a se misturar com o prezado público, com a Mostra Imbuaça de Teatro de Rua. A programação encerra hoje, com o espetáculo ‘De mulambo e filó’, às 16h30, na praça Fausto Cardoso, o melhor dos palcos em toda a aldeia Serigy.