Fred Zeroquatro continua “secando” geral nas praias do Recife (Tiago Calazans/Divulgação)
Walking dead folia
Publicado em 25 de janeiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Nada contra o Big Brother Brasil. Num mundo ideal, todo mundo seria livre para se drogar como bem entendesse, com o veneno da própria preferência. Mas a militância de plantão nas redes sociais, mobilizada pelo direito de consumir o reality show sem prejuízo das credenciais de intelectual progressista, desafia o bom humor de qualquer um. A chatice aborrece. Venha da esquerda, venha da direita.
Sim, uma imagem vale mais do que mil palavras. Os memes compartilhados pelos justiceiros sociais, no entanto, pecam por falta de conexão com as pessoas de carne e osso. Na ânsia de moldar o mundo (ao invés de mudá-lo, como queriam os progressistas ‘old school’) e fazê-lo girar no compasso das próprias convicções, os valentes mandam qualquer um para a fogueira. Não há obra assinada por homem branco a salvo do escracho.
Leio em O Globo: “Musa da Ilha Grande”, a divertida canção de Fred Zeroquatro, o maior sucesso da banda Mundo Livre S/A, ganhou uma nova versão no álbum ‘Walking dead folia’, lançado há poucos dias. Anos atrás, quando catapultou o festejado ‘Samba esquema noise’ (1994) na direção do sul maravilha, a música foi recebida com nariz torcido em certos nichos de pensamento. Provocador, o pernambucano voltou à carga, pelo direito de “secar” quem for nas praias mais bonitas do Recife.
Se a moda pega… Uma coletânea da provocação tem o potencial de reunir um repertório precioso. Chico Buarque é um que já provocou ranger de dentes, ao cantar o amor baldio de um homem casado. A promessa de largar mulher e filhos para perseguir as batidas do coração – dois versos, no meio de um disco magnífico – foi tomada a sério por meia dúzia de malucos, seria um caso exemplar de irresponsabilidade afetiva. Doentes de literalidade, os identitários não querem saber de metáforas.
Nada contra o BBB. No interior de minha bolha, entretanto, Karol Konká , Gil do Vigor, uma tal Juliette, são nomes próprios dissociados de feições. Sem títulos acadêmicos pendurados na parede, desconheço as tribos a que cada um pertence. E penso, cá com os meus botões, a ignorância é uma dádiva.