Cajuieba e a celebração equivocada do bicentenário de Porto da Folha

* José Paulino da Silva

Há alguns anos, a Secretaria de Turismo do Estado de Sergipe publicou um folder equivocado sobre a origem da palavra Aracaju. Entre outras ‘invenções’, aquele folder dizia que, antigamente, em terra onde hoje é Aracaju, vivia um cacique de nome Cajuieba, que dava uma pedrinha para quem passasse por aqui dizendo que este local dava sorte. Daí Aracaju, segundo o fôlder, passou a significar terra que dá sorte.
Esta falsa versão, antes de ser amplamente divulgada, chegou ao conhecimento do Departamento de História da UFS. Ela foi amplamente debatida em reunião extraordinária do Departamento. Resumo: foi aprovado por unanimidade o encaminhamento de um expediente ao governador propondo a imediata retirada de circulação do folder, mostrando que, em nome da verdade histórica, o erro não deveria persistir. O então governador, João Alves Filho, ordenou de imediato que fosse retirado de circulação o tal folder.
Tenho em mãos um documento intitulado: "A Freguesia de Porto da Folha – a data oficial e os equívocos sobre sua criação", de autoria do pesquisador portofolhense Manoel Alves de Souza. Este documento, bem fundamentado, traz um equívoco quanto à celebração do bicentenário da criação da freguesia (paróquia) de Porto da Folha. O equivoco, ou melhor, o erro histórico que está prestes a ser consolidado pelo atual pároco daquela Igreja, o padre Melchizedeck de Oliveira Neto com o aval do seu superior, o bispo de Propriá. Eles estão programando celebrar o bicentenário da paróquia de Porto da Folha no próximo ano, 2021. O documento do pesquisador está alertando que celebrar o bicentenário em 2021 é um grave erro histórico que não pode ser endossado pelas autoridades eclesiásticas em questão, pelas autoridades municipais, nem pela população daquela cidade. Na verdade a data exata da criação desta freguesia religiosa é 16 de agosto de 1832, conforme consta na "Coleção das Leis do Império do Brasil, 1832", pp.57/58, Rio de Janeiro. Além do decreto na íntegra, o pesquisador cita outras fontes (Diário Oficial do Estado de Sergipe, Laudelino Freire, Cândido da Costa e Silva e outros). O alerta do pesquisador está feito e muito bem fundamentado.  
 A partir deste documento de Manoel Alves, as autoridades religiosas em questão não podem permanecer na ignorância, celebrando o bicentenário da igreja de Porto da Folha em 2021. Como diz o ditado popular "errar é humano, perseverar no erro é diabólico".
Aqui vai uma sugestão ao dedicado pesquisador: mande um expediente ao senhor bispo de Propriá e ao pároco de Porto da Folha, para que eles fiquem devidamente informados.  E, se eles não acatarem seu alerta, mande um expediente ao Departamento de História da UFS para, à semelhança do que no passado foi feito sobre o Cajuieba, seja feito sobre o equívoco do bicentenário da Freguesia de Porto da Folha em 2021. O Departamento saberá a quem se dirigir.

*José Paulino da Silva é Dr. em Filosofia e História da Educação. Vice Reitor da UFS  de 1992 a1994.