Euler e Mercedes na beira do rio

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

Euler Lopes é dos meus, senhor de fatigar as retinas em páginas repletas de palavras, olhos vidrados em paisagens. Hábito antigo, ele confessa. Menino, despencava do Instituto Federal de Sergipe até a beira do rio, na Rua da Frente. Ainda hoje pode ser visto de costas pra o passeio, ao pé das esculturas de Tati Moreno, próximo ao Largo da Gente Sergipana,cabelo ao vento, maravilhado, a vista cativa de um livro e do horizonte aberto à vista.
Eu estive com Euler, esta semana. Eu, ele e a dragueen Mercedes Sonsa, autora de ‘Dedo no cru y gritaria’. Esta apareceu em grande forma, toda montada, diagramada, por assim dizer, em vestes de Literatura.
‘Eu leio para você às margens do rio’, uma espécie de happening, uma oportunidade de viver a cidade e dispensar alguns minutos à mania anacrônica de apalpar um livro, virar suas páginas com os próprios dedos, peso e volume na palma da mão, consiste justamente em um gesto simples como parar e ler um conto, um poema, o trecho selecionado de um romance, em plena avenida. Por alguma razão que não me ocorre agora, entretanto, um evento assim tão besta ganha ares de uma experiência inusitada, com algo de extraordinário.
Eu, de minha parte, ainda festejo a graça de me deparar com uma escritora digna de atenção. Mercedes Sonsa não tem medo de enfiar o pé na lama, o pé na jaca das paixões mais réles, fazendo de seu lugar de fala o ponto de partida para transformar experiência em linguagem. Isso tudo, além de colocar a melhor literatura falocêntrica já realizada no Brasil (penso em ‘Pornopopéia’, de Reinaldo Moraes) e alhures (a exemplo da ‘Trilogia suja de Havana’, de Pedro Juan Gutiérrez) no chinelo.
Até o dia 30 de março, Euler Lopes lê Mercedes Sonza com inflexão de ator e dramaturgo para quem se dispor a lhe ouvir e trocar dois dedos de prosa, à beira do Rio Sergipe.Basta agendar. Qualquer um.