Kleber Melo lança Patuá

Rian Santos

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Não raro, duvido de Deus. Já fui de fazer preces, mas os boletos continuavam a chegar com todos os juros embutidos, juros extorsivos, impagáveis, do mesmo jeito.

Eu não creio. Alheio ao eventual apelo espiritual das canções reconheço, contudo, a força maiúscula dos elementos mobilizados pelo lirismo de Kleber Melo. Não sei nada sobre os domínios de outros mundos. De frente para o mar, entretanto, ouço a respiração ofegante de um monstro nunca visto – E tremo.

Tomo por exemplo o álbum Batuque das Águas (2022). Tudo, aqui, soa muito natural. Cordas e peles, mais a inflexão tonitruante de Kleber, dispensam outros recursos. Sopapos reverberam alto, arpejos embalam. O esteio instrumental da música, obra e graça de Ricardo Vieira e Pedrinho Mendonça, tem a força de uma verdadeira evocação.

Sim, a música de Kleber Melo tem um propósito notável, um sentido místico dos mais evidentes. O artista reverencia entidades íntimas dos quatro elementos: terra, fogo, água, ar. E o conjunto de seu trabalho reflete a beleza desse convívio.

Duvido de Deus, não sei nada sobre os domínios de outros mundos. Ouço Kleber Melo, contudo, e me sinto tocado pela magia. Eu, um homem de meia idade soterrado em ignorância e ceticismo, um cínico assumido.

Esta semana, Kleber Melo realiza o lançamento do single Patuá, com banda e convidados, música de corpo presente. Dia 23 de fevereiro, às 19h30, no bistrô A Casa do Mangue.