“Calcanhotto adota heterônimo em álbum para criançada
Publicado em 12 de outubro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Partimpim vive no presente”. É assim que Adriana Calcanhotto se refere à maneira como seu heterônimo experimenta a passagem do tempo. Partimpim, portanto, não está 20 anos mais velha do que quando lançou seu primeiro disco, em 2004. Diferentemente dos meninos e meninas que ouviram aquelas canções — muitos deles hoje pais e mães de novos ouvintes —, ela segue sendo criança.
Mas isso não significa que Partimpim esteja parada no tempo há 20 anos. O mundo em torno dela muda, e ela reage às transformações e age sobre elas. “O quarto” (Sony Music) — álbum que chegou às plataformas no dia 10 de outubro — testemunha isso de algumas formas: em “Malala”, que documenta pela força da existência da ativista paquistanesa o horror do Talibã que proíbe as meninas de estudar; em “Estrela, estrela”, canção do gaúcho Vitor Ramil, conterrâneo de Calcanhotto, que entra no disco como referência às chuvas que inundaram o Rio Grande do Sul este ano; em “Tô bem”, hit de TikTok da banda Jovem Dionísio que encantou a Partimpim que lançou seu primeiro disco num planeta em que não havia redes sociais.
Acima de tudo, porém, “O quarto” afirma a conexão de Partimpim com 2024 — o presente que ela vive hoje — numa ideia que atravessa o disco.
Calcanhotto aponta a pista: “A Partimpim dá um recado claro na abertura do disco: “E nós vamos inventar o mundo”.
Desde a abertura (“O meu quarto”, que traz o verso destacado pela cantora), até a última canção (“Estrela, estrela”), as oito faixas do álbum fazem uma defesa delicada e contundente da possibilidade de se inventar uma realidade mais nobre e mais bela do que esta que cavamos: da crise climática; da velocidade frenética; da emergência de autoritarismos; das telas que nos impedem de ver o horizonte; da ansiedade que espalha nossa atenção e nos impõe uma ausência constante; do desencanto detonado pelo noticiário. Uma convocação às crianças para que se invente o futuro, enfim — ou o presente, como ensina Partimpim.
“O disco tem “Atlântida” e o “Boitatá”, essa coisa da lenda, da mitologia. De se afirmar, como Rita Lee faz em “Atlântida”, que “o mundo é dos que sonham que toda lenda é pura verdade” — destaca Calcanhotto.