Quinta, 06 De Fevereiro De 2025
       
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A cidade submersa


Publicado em 07 de junho de 2019
Por Jornal Do Dia


Felicidade, só com tempo bom

 

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br 
Aracaju amanheceu 
submersa, desapare
ceu sob dois palmos de água suja. Quem teve de botar os pés fora de casa, obrigado a sofrer na própria pele o castigo em forma de chuva, espetou os olhos na fisionomia grave das nuvens, maldizendo o humor supostamente inconstante do firmamento. Pouca gente se dá conta, mas todo ano é assim.
A minha cidade se esbalda em céu azul o ano inteiro. Em junho, no entanto, a linha do horizonte, de ordinário aberta à vista, se fecha em copas. Alguém de pé, à beira do mar, na Atalaia, mal pode crer na paisagem. A fartura de luz cantada em verso pelo poeta Jeová Santana se esconde sob um pesado manto cor de chumbo. Acostumada à amplidão, íntima dos espaços sem limites, toda a gente do lugar se aborrece, confinada entre quatro paredes. 
De um dia para o outro, telhados foram arrancados das casas, feito um pedaço de papel largado na rua com o fim de entupir os bueiros. Árvores partiram por força do vento. O poder público se diz surpreendido pela excepcionalidade do evento, como a pedir desculpas pelos transtornos na rotina da população. Mas a verdade é que Aracaju nunca dispôs de saneamento básico. Além disso, segundo as más línguas, a Câmara de Vereadores cabe inteira no bolso das construtoras, razão pela qual o parlamento municipal sempre dá um jeitinho de protelar a aprovação de um novo Plano Diretor e se esquiva da obrigação de estabelecer parâmetros aceitáveis de ocupação do solo em perímetro urbano, entre outras malandragens do gênero.
Foi um rio que passou em minha vida… Ontem, embaixo do pé d’água, um gaiato passou pela minha porta berrando o samba de Paulinho da Viola, entre indignado e endoidecido, a plenos pulmões. No bairro Aeroporto, justamente onde a Prefeitura trabalha para abrir uma avenida, as ruas se transformaram em afluentes da ira divina. Eu não duvido que a vizinha crente tenha passado o dia e a noite sobre os joelhos, mãos espalmadas, rogando a Deus.
Aracaju foi lavada em melancolia, cobriu-se de cinza, treme de frio. Até segunda ordem, não tem forró, não tem água de coco na praia, não tem sorvete do Castelo Branco. Felicidade de novo, só quando fizer bom tempo.

Aracaju amanheceu  submersa, desapare ceu sob dois palmos de água suja. Quem teve de botar os pés fora de casa, obrigado a sofrer na própria pele o castigo em forma de chuva, espetou os olhos na fisionomia grave das nuvens, maldizendo o humor supostamente inconstante do firmamento. Pouca gente se dá conta, mas todo ano é assim.
A minha cidade se esbalda em céu azul o ano inteiro. Em junho, no entanto, a linha do horizonte, de ordinário aberta à vista, se fecha em copas. Alguém de pé, à beira do mar, na Atalaia, mal pode crer na paisagem. A fartura de luz cantada em verso pelo poeta Jeová Santana se esconde sob um pesado manto cor de chumbo. Acostumada à amplidão, íntima dos espaços sem limites, toda a gente do lugar se aborrece, confinada entre quatro paredes. 
De um dia para o outro, telhados foram arrancados das casas, feito um pedaço de papel largado na rua com o fim de entupir os bueiros. Árvores partiram por força do vento. O poder público se diz surpreendido pela excepcionalidade do evento, como a pedir desculpas pelos transtornos na rotina da população. Mas a verdade é que Aracaju nunca dispôs de saneamento básico. Além disso, segundo as más línguas, a Câmara de Vereadores cabe inteira no bolso das construtoras, razão pela qual o parlamento municipal sempre dá um jeitinho de protelar a aprovação de um novo Plano Diretor e se esquiva da obrigação de estabelecer parâmetros aceitáveis de ocupação do solo em perímetro urbano, entre outras malandragens do gênero.
Foi um rio que passou em minha vida… Ontem, embaixo do pé d’água, um gaiato passou pela minha porta berrando o samba de Paulinho da Viola, entre indignado e endoidecido, a plenos pulmões. No bairro Aeroporto, justamente onde a Prefeitura trabalha para abrir uma avenida, as ruas se transformaram em afluentes da ira divina. Eu não duvido que a vizinha crente tenha passado o dia e a noite sobre os joelhos, mãos espalmadas, rogando a Deus.
Aracaju foi lavada em melancolia, cobriu-se de cinza, treme de frio. Até segunda ordem, não tem forró, não tem água de coco na praia, não tem sorvete do Castelo Branco. Felicidade de novo, só quando fizer bom tempo.

 

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