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A ESPANHA AINDA É RACISTA?


Publicado em 27 de maio de 2023
Por Jornal Do Dia Se


Lelê Teles
 
As primeiras manifestações de racismo na Espanha 
se deram com os estatutos de pureza do sangue, 
vigentes entre dos séculos XV e XIX, e foram transferidos para o Império Espanhol na América, dando origem ao sistema colonial de castas. No século XVIII tentou-se “exterminar” a “má raça” dos ciganos com a malsucedida operação do “Grande Raid”, idealizado e dirigido pelo Marquês de la Ensenada, ministro do rei Fernando VI.  O racismo científico chegou à Espanha no século XIX e se projetou nos nacionalismos espanhol, catalão, basco e galego.
Vini Jr, com a sua coragem e inteligência, deu um drible desconcertante nos racistas espanhóis.
Ele expôs todos eles para o mundo todo.
Em um tuíte muito bem redigido, Vini disse, com todas as letras, que a Espanha é racista.
Isso fez com que o presidente de la liga, o covarde Javier Tebas, voltasse às redes para, mais uma vez, contestar as palavras do craque brasileiro.
Dessa vez, o sujeito, que é apoiador do vox, o infame partido de extrema direita espanhol – racista, portanto -, disse que a Espanha não é racista.
Alguns jornalistas espanhóis trataram logo de afirmar a mesma coisa.
A Espanha não é racista.
Ora, ora, ora.
O racismo fundou a Espanha.
“A ideia de raça”, nos diz Aníbal Quijano¹, magistral sociólogo peruano, “tem uma origem colonial”.
Eram racistas, por definição, os colonizadores espanhóis.
Foi por serem racistas que eles assassinaram mais de 30 milhões de pessoas durante o processo colonizador; com a descarada justificativa de que não eram humanos aqueles que eles passavam no fio da espada.
Quando Colombo aportou, no que mais tarde seria chamado de continente americano, e viu as pessoas que viviam aqui, ele não perguntou quem eram, mas o que eram!
São humanos ou não são humanos?
Isso está escrito já na primeira carta de Colombo, nos diz Quijano.
E é exatamente isto o que estão dizendo os torcedores espanhóis quando chamam Vini Jr de macaco.
A Espanha ainda idolatra Hernán Cortés² e Francisco Pizarro³, dois racistas assassinos e sanguinários.
Os espanhóis ainda se refestelam com o produto do roubo e da pilhagem que seus antepassados piratearam do continente americano.
E como se vê, a herança colonial espanhola não é só material.
Quijano afirma que essa noção de raça, superior e inferior, não desapareceu com a emancipação e nem com o anticolonialismo, pelo contrário, em muitos âmbitos ela se tornou ainda mais forte.
Eemos um estádio lotado, com transmissão ao vivo para todo o mundo, gritando isto abertamente.
Como pode um estádio inteiro massacrar um garoto por conta da cor de sua pele e isso não gerar um repúdio público, contundente e imediato de toda a sociedade espanhola, do rei ao rato?
São racistas, todos, ou só os que pagaram o ingresso?
Como diabos as redes de televisão não tiveram o pudor de ameaçar não mais transmitir este tipo de espetáculo grotesco?
É uma educação racista que estão a oferecer aos seus telespectadores mirins?
É isso que estão a servir às crianças na Espanha, como espetáculo?
Além de esfolarem touros em arenas, esses selvagens agora matam simbolicamente um jovem negro, enforcando-o e arrancando-lhe a humanidade?
Como grandes empresas transnacionais continuam a ganhar dinheiro patrocinando este horrendo show de incivilidade?
O fizeram sempre porque sempre contaram com a conivência da sociedade e do poder público e com o medo daqueles que eles humilhavam.
O racismo é, desde sempre, uma relação de poder.
Há muitas pessoas poderosas respaldando o grito selvagem de cachaceiros de arquibancada.
MasVvini Jr meteu o pé na porta.
“Dizem que a felicidade incomoda, a felicidade de um peto, brasileiro, vitorioso na europa incomoda muito mais”, disse o craque em um vídeo postado em suas redes no ano passado, depois de ser escorraçado na imprensa e nas redes porque cultiva o despudor de dançar e sorrir enquanto aplica seus mágicos dribles em campo.
Com isso, Vini chamou todos os descendentes de escravizadores de frustrados, invejosos e infelizes.
Bingo!
“Respeite ou surtem. repito pra você, RACISTA, eu não vou parar de bailar”.
É uma porrada forte demais.
A estrutura sentiu.
Javier veio a público pedir desculpas a Vini.
O poderoso banco Santander já mandou dizer que não vai renovar o patrocínio a la liga.
A pecha de racista pegou, e pegou mal.
Tá todo mundo se coçando.
No ano que vem, a Espanha vai apresentar sua candidatura para sediar o mundial de 2030, junto com Portugal e Marrocos.
A coisa pode desandar.
Ninguém vai botar uma Copa do Mundo em um país carimbado como racista.
Agora, o mundo vai saber se a Espanha, realmente, não é mais racista ou se está apenas a tentar limpar sua barra e defender seus interesses econômicos.
O racismo, não nos esqueçamos, é uma relação de poder.
E vini jr mostrou-se um garoto poderoso.   
Nunca uma pessoa só, um único indivíduo, fez tanto pela luta antirracista como ele o fez agora.
Palavra da salvação.
 
Lelê Teles é jornalista, publicitário e roteirista (lele.teles@gmail.com)
 
¹ Aníbal Quijano foi um sociólogo e pensador humanista peruano, conhecido por ter desenvolvido o conceito de “colonialidade do poder”.
² Hernán Cortés de Monroy y Pizarro Altamirano, 1.° Marquês do Vale de Oaxaca foi um conquistador espanhol, conhecido por ter destruído o Império Asteca de Moctezuma II e conquistado o centro do atual território do México para a Espanha.
³ Francisco Pizarro González foi um conquistador e explorador espanhol que entrou para a história como “o conquistador do Peru”, tendo submetido o Império Inca ao poderio espanhol.
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