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A “Matrix” Econômica Brasileira: Como os números do Governo criam uma simulação de progresso em meio ao caos


Publicado em 24 de janeiro de 2025
Por Jornal Do Dia Se


* André Charone
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No icônico filme Matrix, Neo descobre que a realidade em que vivia era apenas uma simulação, escondendo a verdadeira condição do mundo. Essa metáfora pode ser aplicada à economia brasileira de hoje. Embora os índices oficiais mostrem uma narrativa de estabilidade e progresso, a vida real das pessoas conta uma história completamente diferente.
Ao observar os dados econômicos apresentados pelo governo, como a inflação divulgada e a queda no desemprego, é fácil acreditar que o Brasil está no caminho certo. Contudo, basta visitar um supermercado ou abastecer o carro para perceber que essa narrativa não condiz com a experiência cotidiana de milhões de brasileiros. A “simulação” criada pelos indicadores macroeconômicos mascara problemas profundos e estruturais, que continuam a pressionar o custo de vida e limitar o crescimento inclusivo.
Os números da simulação: uma ilusão confortável?
De acordo com os últimos relatórios, o desemprego caiu para 6,4%, e o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% no último trimestre de 2024. Esses resultados são usados pelo governo como evidências de que a economia está se recuperando. A queda no desemprego, em especial, é exaltada como uma conquista importante, enquanto o crescimento do PIB sugere que o Brasil caminha em direção à estabilidade.
No entanto, assim como as máquinas em Matrix manipulavam a realidade para manter os humanos passivos, esses dados positivos escondem uma verdade incômoda. A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2024 em 4,83%, ultrapassando o teto da meta de 4,5% estipulada pelo Banco Central. Essa alta reflete as dificuldades em conter os preços, principalmente de itens essenciais como alimentos e combustíveis, que continuam subindo acima da média e impactando desproporcionalmente as famílias de baixa renda.
Outro ponto crítico é a desvalorização do real. Em janeiro de 2025, o dólar ultrapassou R$ 6,00, acumulando uma queda de 27,36% no último ano. Essa desvalorizáção tem pressionado os custos de importação e elevado os preços de insumos industriais, combustíveis e bens de consumo. Esses aumentos afetam diretamente o consumidor final, corroendo ainda mais o poder de compra.
Portanto, embora os números positivos pintem um quadro otimista, eles são insuficientes para refletir a realidade enfrentada pelos brasileiros. Assim como em Matrix, a simulação criada pelos indicadores econômicos tenta mascarar os problemas estruturais profundos, mantendo a população “confortável” enquanto enfrenta dificuldades crescentes no dia a dia.
Por que a realidade econômica é tão diferente?
Assim como Neo percebe que a “realidade” em que vivia era manipulada para manter as pessoas passivas, os índices econômicos no Brasil mostram apenas parte da verdade, escondendo problemas estruturais profundos que perpetuam o desequilíbrio. Entre os fatores que agravam a desconexão entre os números e a vida real, destacam-se:
Alta informalidade e precarização do trabalho: Embora a taxa de desemprego tenha caído, grande parte dos novos empregos estão na informalidade, sem garantias ou estabilidade. Isso reduz a capacidade de consumo e aumenta a vulnerabilidade das famílias.
Custo de vida elevado: Enquanto a inflação oficial reflete um percentual geral, itens como alimentos, combustíveis e energia elétrica continuam subindo de forma desproporcional, corroendo o poder de compra dos mais pobres.
Alta do dólar: A desvalorização do real pressiona a cadeia de produção e gera efeitos cascata que impactam desde o agronegócio até o consumidor final.
Ausência de reformas estruturais: A falta de medidas consistentes para reduzir o déficit fiscal, melhorar a produtividade e atrair investimentos cria um ambiente de incerteza que desestimula o crescimento sustentável.
O perigo de confiar na Matrix econômica
Assim como a Matrix era projetada para manter seus habitantes ignorantes das condições reais do mundo, os indicadores econômicos muitas vezes são usados para mascarar os desafios enfrentados pela população. Ao focar em métricas macroeconômicas, o governo cria uma narrativa que ignora as condições reais de vida da população. Essa desconexão não apenas mina a confiança da sociedade, mas também impede a formulação de políticas públicas que realmente impactem o cotidiano das pessoas.
A economia real deve ser o foco
O Brasil precisa romper com a ilusão de que alguns poucos indicadores macroeconômicos positivos são suficientes para afirmar que a economia vai bem. Assim como Neo percebe que viver em uma simulação não é o mesmo que viver de verdade, é fundamental que o país encare suas fragilidades estruturais de forma honesta e corajosa.
Despertar da Matrix econômica não será fácil, mas é necessário. Somente com coragem para enfrentar as verdades desconfortáveis e agir sobre elas é que poderemos construir uma economia mais justa e sustentável, onde os números reflitam não apenas uma narrativa, mas a realidade de um país que verdadeiramente prospera.
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* André Charone é contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA)
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