AUTÓPSIA DE D. PEDRO
Publicado em 17 de setembro de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Inocêncio Nóbrega
D. Pedro não se preocupava em cuidar de sua saúde. De natureza impulsiva, extravagante fora da conta, em muitos atos de sua vida, especialmente particular, tornar-se-ia presa fácil da tuberculose, da qual tardiamente se defendia, já na cidade do Porto, para onde seguiu, forçado pelas circunstâncias políticas, medindo forças contra seu irmão, D. Miguel.
Em 1834 a moléstia se apossava, definitivamente, de seu combalido corpo, quando residia no Paço, de uma forma forte e rebelde, comprometendo a elegância adquirida quando de outros tempos. De olhar sem brilho, sua face pálida e magra, somava-se à fadiga do organismo. Ainda assim, preocupava-se com os negócios de Estado, também conturbado pelos rastros de uma guerra civil, embora a seu favor, impressionavam sua barba, agora mais enegrecida, e o porte mais enfraquecido.
Bastante diferente de seu estilo irrequieto, desfrutando uma mocidade de aventuras amorosas, causando-lhe atropelos morais e de vigorosidade, advindo a bronquite. Eram abundantes os sintomas, sem que fossem detectados pela medicina, fatores que ocasionaram repetidas crises. Pulmões comprometidos, incessantes tosses, de mãos trêmulas e magras, quadro que se apressou, rapidamente, rumo a sua morte, a 24 de setembro daquele ano, sendo sepultado três dias depois.
Reportagem especial do jornal “Estado de S. Paulo”, alusivo ao Sesquicentenário da Independência, nos traz o respectivo laudo da autópsia, sobre o qual resumimos. Diz, então: “gravíssimas lesões; hidrotórax do saco pleurítico direito, contendo duas e meia libras de um líquido turvo e sanguinolento. A pleura esquerda, nada se continha de líquido; aderência de pleura pulmonar à costa, em grande extensão; pulmão esquerdo aderente à pleura costal, de cor denegrida; sem aparência vesicular. Coração um pouco maior que o estado normal, flácido e decorado, com alguma aderência na sua parte posterior; as válvulas examinadas, sem alterações; rins um tanto esbranquiçados, se apresentavam em estado de amolecimento, encontrando-se um cálculo no rim esquerdo”.
O coração do Imperador esteve em visita ao Brasil, nestas festas bicentenárias. Em 1972, não foi fácil a extração dos restos mortais, transladados e aqui repousam. Usou-se uma chave, que só a Câmara Municipal tinha o poder de guardá-la, para retirada dos parafusos fixados na pesadíssima placa, que os encobria. Antes, duas chaves, a fim de romperem a grade de ferro, que fez girar as dobradiças, abrindo-se, com cuidado, o lado direito do recinto. Novos procedimentos, até alcançar-se o pretendido alvo, assistidos pelo Mesário de Nª Srª da Lapa, devidamente paramentado, em cuja igreja se achava.
Inocêncio Nóbrega, jornalista.