CARNAVAL EM ABRIL- A ALEGRIA DESAFIA A PANDEMIA
Publicado em 21 de abril de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
Um dos grandes sucessos do Carnaval de 1978 foi a canção de Dodô, Osmar e Moraes Moreira: Taiane. Foi lançada naquele mesmo ano no álbum do Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar. Em sua primeira estrofe, destaque para os versos: “Carnaval não brigo, carnaval eu brinco / Desabafo com amor a minha dor / Alegria desafia a violência”. Parafraseando os velhos e novos baianos, a seguir tratarei sobre uma notícia que marca essa semana: a volta dos Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Se é verdade que a História é cíclica, será iremos testemunhar a mais uma edição do “Carnaval dos carnavais” de 1919? Sinceramente, acho que ainda não. Pelo menos este ano, onde ainda estamos às voltas com os efeitos sanitários da COVID-19. Entretanto, em termos de ensaio, acredito que vale a pena estarmos atentos aos acontecimentos desta semana, apesar do clima ou anticlímax do momento, em que muitas pessoas ainda ressentem a perda de seus entes ou sofrem as consequências da doença.
Em janeiro de 1918, a Gripe Espanhola chegou ao Brasil, matando milhares de pessoas, sobretudo nas grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro. As duas somaram mais de doze mil óbitos. Em razão disso, não houve Carnaval naquele ano, como aconteceu conosco em 2021. Foi o primeiro evento, também, depois da Grande Guerra. As pessoas estavam ansiosas para extravasem. A Guerra foi tema do Carnaval do Rio de 1919, com um maxixe de Caninha – O Kaiser em Fuga: “Viva, viva / Sempre os nossos aliados / Que venceram essa guerra / E prenderam os culpados”.
Outro acontecimento importante daquele ano de 1919, foi a criação do famoso bloco de rua “Cordão da Bola Preta”. Além disso, segundo Felipe Branco Cruz, revista Veja 2021: “Aquele Carnaval de 1919 mudou também os costumes, fazendo com que as pessoas deixassem o conservadorismo de lado para liberarem seu lado mais festivo – e libidinoso. Tanta festa e pegação cobrou a fatura nove meses depois: houve um boom de nascimentos nunca antes visto na cidade”.
Eu, particularmente, sou entusiasta do Carnaval de Salvador, que infelizmente não acontece desde 2020. Eu estive lá e já se falava da COVID-19, mas não ainda em termos pandêmicos. Pelo visto, só voltará a acontecer em 2023. Mas também, sou fã do Carnaval do Rio, sobretudo dos seus desfiles de Escolas de Samba, que ainda não tive o privilégio de presenciar. Mangueirense desde menino, aguardo ansiosamente o que as escolas irão levar para a avenida, destaque para Salgueiro, com o Enredo “Resistência”; São Clemente, que irá homenagear o humorista Paulo Gustavo, vítima da COVID-19; e a Vila Isabel que irá homenagear um de seus maiores nomes, o cantor e compositor Martinho da Vila.
Em 2022, a Unidos do Viradouro (Rio de Janeiro) irá fazer menção àquele Carnaval de 1919, com o Enredo “Não há tristeza que possa suportar tanta alegria”, dos carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon. Composição de Ademir Ribeiro, Devid Gonçalves, Fábio Borges, Felipe Filósofo, Lucas Marques e Porkinho, e interpretação de Zé Paulo Sierra.
Há um trecho neste Samba-Enredo que traduz bem este momento que estamos vivendo, queira Deus, de saída dos piores momentos da pandemia de COVID-19: “Te procurei nos compassos e pude / Aos pés da cruz agradecer à saúde / Choram cordas da nostalgia / Pra eternidade, um samba nascia”. Que outros carnavais venham e levem para longe, com a sua alegria, as lembranças tristes dessa doença terrível. Que além de desafiar a violência, possa a alegria vencer e nos ajudar a vencer esta pandemia.