DIA INTERNACIONAL DA MULHER TERÁ MUITAS COMEMORAÇÕES
Casos de violência e feminicídio crescem e preocupam em SE
Publicado em 08 de março de 2020
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
No Dia Internacional da Mulher, come morado neste domingo, a principal preocupação continua sendo a violência de gênero, que acaba culminando com os feminicídios. Em Sergipe, a polícia já registrou, neste ano de 2020, pelo menos quatro casos computados oficialmente como assassinato motivado pela condição feminina ou por comportamentos machistas. O mais recente deles aconteceu em Brejo Grande (Baixo São Francisco), no dia 18 de fevereiro, quando a jovem Daillany Silva Dantas, 28 anos, foi esfaqueada pelo ex-companheiro. O acusado se apresentou nesta sexta-feira e, ao ser interrogado, invocou o direito ao silêncio. Os outros casos aconteceram nas cidades de Pirambu, Feira Nova e Nossa Senhora do Socorro, onde a cabeleireira Sabrina Silva Lima Gonçalves, 36, morreu baleada no último dia 6 de janeiro, em frente a uma academia de ginástica.
Nos três casos, as mortes foram causadas pelos próprios maridos e ex-maridos, que já foram presos. A estatística de feminicídios do ano não subiu por pouco, pois outras duas mulheres sobreviveram a tentativas de homicídio provocada pelos ex-companheiros. Um dos casos foi o de uma moradora de rua que foi agredida e jogada contra as pedras de um molhe no Rio Sergipe, em Frente ao Espaço Cultural Zé Peixe, centro de Aracaju. O outro foi no Conjunto Jardim, em Nossa Senhora do Socorro. Um terceiro caso foi um sequestro cometido no dia 20 de fevereiro em Tobias Barreto, quando uma mulher e o filho recém-nascido dela foram capturados e mantidos como reféns durante quatro dias em um matagal na cidade de Itapicuru (BA).
Já em anos anteriores, houve um crescimento dos crimes relacionados a mortes de mulheres, sendo em sua maioria feminicídios cometidos pelos próprios companheiros ou ex-companheiros de relação, como maridos, namorados e noivos. Entre 2018 e 2019, no entanto, estas mortes tiveram um crescimento. Dados fornecidos pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), e publicados em reportagens recentes da imprensa nacional, mostram que os crimes de feminicídio em Sergipe tiveram uma alta de 31%, indo de 16 ocorrências registradas em 2018 para 21 em 2019. E o total de mulheres assassinadas, incluindo por outros motivos além do feminicídio, aumentou em 27%, indo de 37 no ano retrasado para 47 no ano passado.
Os ataques à integridade das mulheres não se resumem apenas aos feminicídios, mas também abrangem as agressões físicas, morais e psicológicas praticadas reiteradamente pelos companheiros ou ex-companheiros. Os crimes contra a mulher lideram as estatísticas do Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV). No ano passado, a especializada registrou 2.687 ameaças; 1.554 lesões corporais; 1.445 injúrias; 546 vias de fato; 288 danos; 179 difamações; e 115 descumprimentos de medida protetiva. A alta, segundo especialistas, teve com o um de seus fatores a abertura do plantão 24 horas da sede do DAGV, no Centro de Aracaju, ao final do ano retrasado. Essa estratégia, definida pela Polícia Civil para reforçar o combate à violência doméstica, soma-se a outras iniciativas de apoio às vítimas desses crimes, como a Patrulha Maria da Penha, feita pela Polícia Militar e algumas guardas municipais para garantir o cumprimento das medidas protetivas de urgência concedidas pela Justiça a mulheres sob ameaça dos agressores. E na última semana, uma portaria foi baixada para padronizar e priorizar o atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica e de gênero em todas as delegacias da Polícia Civil.
"Precisamos passar às mulheres a informação de que existe uma rede de apoio presente e estruturada para acolher, orientar e proteger as mulheres que são agredidas e violentadas. O nosso foco é encorajar mulher a romper o ciclo da violência. Essas iniciativas vêm cumprindo sua função. O problema já existia antes, mas a informação está circulando mais, as pessoas estão mais conscientes e as mulheres vem buscando mais ajuda, tomando mais coragem para romper esse ciclo de sofrimento. Não é mais aceitável que uma mulher sofra calada, em silêncio", avalia a sargento Svletana Barbosa, presidente da Associação Integrada de Mulheres da Segurança Pública em Sergipe (Asimusep/SE).
Ela também ressalta a importância de uma mudança de cultura na educação de homens e de meninos, para que eles abandonem culturas e comportamentos machistas e discriminatórios contra a mulher. "A violência doméstica atinge à família como um todo, criando traumas e prejudicando as relações. E isso passa pela cultura machista que precisa ser desconstruída. Precisamos reavaliar a forma como estamos criando esses homens, para que eles respeitem as mulheres, as decisões dela, o corpo delas. E que eles entendam que todos tem o direito a fazer o que quiser", afirma Svletana.