CIÊNCIA AGRÍCOLA E SEGURANÇA ALIMENTAR (II)
Publicado em 24 de abril de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Pedro Abel Vieira e Manoel Moacir Cosa Macêdo
Anteriormente aos anos sessenta, a maior parte do crescimento da produção agrícola brasileira foi decorrente do uso da terra. Posteriormente, a PTF – Produtividade Total dos Fatores na agricultura revelou o uso da irrigação e insumos químicos e sintéticos, determinantes no aumento da produção e produtividade agrícola. No período recente, entre 2011 e2020, a PTF cresceu a uma taxa anual de 1,2%, respondendo por 58% do crescimento da produção agrícola mundial. Atualmente, no caso brasileiro, mais de 70% desses ganhos advém das inovações tecnológicas.
Apesar das expressivas safras agrícolas de grãos, a fome e a insegurança alimentar ainda atinge 11,7% da população global e quase metade dos nacionais. O número de pessoas incapazes de pagar por uma dieta saudável no mundo alcançou 3,1 bilhões de criaturas. As soluções não estão apenas no lado da oferta de alimentos, mas também na demanda, pela incapacidade de acesso aos alimentos seguros, nutritivos e suficientes. Nessa empreitada a ciência agrícola ajuda com inovações tecnológicas, alavancando o crescimento da produção e produtividades das lavouras. No entanto, a fome nos últimos anos, ao invés de reduzir, foi acrescida de desnutrição e obesidade. As suas causas são multidimensionais: desigualdade social, pobreza, conflitos, guerras, crises econômicas e desperdícios. Novas contingências alimentam a fome, realce para a problemática ambiental: mudança climática, manejo inadequado de recursos naturais, aquecimento global, inundações e secas severas.
Para o World Food Programme da ONU – Organização das Nações Unidas, esses constrangimentos, levarão à desestabilização global, fome e migração em massa sem precedentes na história da humanidade. A insegurança alimentar se revela na deficiência, no excesso e no desequilíbrio na ingestão de nutrientes e alimentos saudáveis. A má nutrição conduz a desnutrição, sobrepeso, obesidade e doenças relacionadas à alimentação. A obesidade está crescendo no mundo, passando de 12% para 13%entre 2012 a 2016. No Brasil, cerca de 2% das crianças com menos de cinco anos de idade apresentam déficit de peso, enquanto 8% têm sobrepeso. Contradições inaceitáveis. Os mais pobres não têm acesso ao mínimo de três refeições diárias, enquanto os ricos consomem alimentos em demasia. Pior é que ambos os grupos consomem ultra processados e açucarados. Nos últimos sete anos, o consumo desse padrão alimentar na faixa etária de 2 a 19 anos superou 80%.
A fome não é determinista, tem solução e exemplos não faltam. De pronto, a oferta de comida saudável e barata, do outro as transformações estruturais no trabalho e acesso à renda pelas populações vulneráveis. Alternativas estão postas e requerem urgência, num momento de sobrevivência da humanidade, pela mudança climática e consumo exagerado.
A ciência agrícola tem ofertado inovações que aumentam a produção e produtividade dos fatores de produção, a exemplo das safras recordes a cada ano no Brasil. Inovações adequadas ao meio ambiente estão disponíveis para os diversos sistemas produtivos. O aumento da produtividade e qualidade dos produtos agrícolas, além de garantir a competitividade internacional da agricultura brasileira, viabiliza alimentos abundantes, baratos e diminui os custos de produção. Como exemplo, a redução do custo da cesta básica em São Paulo, a locomotiva industrial do Brasil, de 220 para 112 horas trabalhadas entre 1988 a 2020, com implicação na renda das famílias, de 50% em 1970 para 20% em 2020. Como consequência imediata, as políticas de transferência de renda, ganharam força no Brasil a partir do final da década de 1990.
Ao final, o esperado é o manejo dos sistemas produtivos agrícolas pela incorporação de inovações e proteção à natureza. Produzir com sustentabilidade e consumir com saúde.
Pedro Abel Vieira e Manoel Moacir Cosa Macêdo são engenheiros agrônomos