Cria cuervos
Publicado em 19 de abril de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
A suposta colaboração de Igor Salmeron na redação de ‘João Alves Filho – A saga de um político nordestino’ foi suficiente para afugentar o leitor mais criterioso. Ante o risco de encalhe, contudo, convém remediar o dano causado por esta página, ao chamar atenção para os adjetivos sem propósito do sujeito. Em verdade, todo o trabalho foi realizado por Deborah Pimentel – verdadeira e única autora do livro.
Só Deus sabe as razões de Deborah, ao compartilhar com outro o próprio mérito. Público e notório, ao contrário, é o comportamento antiético de Igor Salmeron, satisfeito de receber aplausos, mesmo quando indevidos. Não que se esperasse dele algum pudor. No meio acadêmico, o baba ovo é conhecido pela alcunha de “caça ricos”.
A história da suposta colaboração descreve, passo a passo, uma sucessão de equívocos. Contratado e pago para realizar algumas poucas entrevistas, Igor Salmeron reivindicou a impressão de seu nome na capa do livro. Deborah cedeu, inadvertida. Somente ela, no entanto, colocou as mãos nas 500 e tantas páginas da biografia. Cada palavra deitada sobre o papel foi imaginada, pesada e escolhida pela autora, somente ela.
O resultado, nota-se, é muito diverso dos artigos redigidos por Igor Salmeron, marcados por uma adulação sem escrúpulos. Ao contrário da vassalagem, resta na saga redigida por Deborah o retrato de um político apanhado em seus feitos e contradições, a evocação afetiva, por vezes, de um homem feito da mesma matéria de toda a gente. Ela confessa, sim, admiração por João Alves Filho. Mas nem por isso faz vistas grossas para episódios delicados e passagens pouco abonadoras.
Felizmente, Deborah Pimentel e Igor Salmeron possuem trabalhos pregressos, capazes de atestar a índole de cada um. Sobre ela, a página ouviu os maiores elogios. O mesmo não pode ser dito dele, um aventureiro, um alpinista social. Um jornalista conhecido, já assediado pelo bajulador, resumiu perfeitamente o seu caráter:
“Igor Salmeron é um memorialista que avilta a memória sócio-afetiva de um Luiz Antônio Barreto. É um memorialista agachado por detrás de uma touceira de subserviência, de graciosismo e puxa-saquismo. E nada disso serve a nada”.