Brad Pitt, o Messias
Cristianismo zumbi
Publicado em 20 de julho de 2013
Por Jornal Do Dia
* Anderson Bruno
O maior mérito de ‘Guerra Mundial Z’ (World War Z, Dir. Marc Forster, EUA, 2013, 119 min) está na originalidade do roteiro. Um tema tão batido no cinema de terror quando o assunto dramatizado são os zumbis – ou, se preferir, mortos vivos – aqui na produção tem alguns adendos inteligentes na sua construção fílmica. Pra não dizer que tudo são flores na película, algumas ‘viagens’ também são percebidas na trama.
‘Guerra Mundial Z’ é um filme cristão. Sim, isso mesmo: CRISTÃO! A horda de zumbis toma conta do planeta como a uma verdadeira praga, iniciando uma guerra literal no longa-metragem. O exército é a força tarefa designada (na verdade, a única capaz) para o contra ataque aos mortos-vivos. Guerras mundiais e pandemias – como a gripe espanhola e a lepra – foram responsáveis por perdas populacionais de proporções bíblicas no decorrer da história da humanidade. Desta vez, o surto de zumbis acaba por ser a real representação do apocalipse.
Nosso Jesus Cristo vem na forma de Brad Pitt! Ele é o responsável pela ‘visão além do alcance’, tarefa fundamental para vencer a batalha e, consequentemente, a guerra contra os homens (e mulheres) do mal. Sua percepção dos pontos fracos dos zumbis o leva até Jerusalém, nada mais nada menos do que uma terra santa em torno do Messias fundador do cristianismo.
Para enfatizar ainda mais a figura messiânica do nosso protagonista, um infectologista era tido como o grande Salvador da humanidade pela sua função médica. Era o único capaz de estudar e levar adiante a busca por um antídoto capaz de curar, reverter, ou qualquer coisa do tipo, os infectados; numa luta contra o tempo e também contra os zumbis. Mas, dentro do contexto litúrgico estabelecido, questões envolvendo a ciência não são páreos para com a fé e a espiritualidade. O momento não é científico. É metafísico! Sobrou pra Brad ‘Jesus Cristo’ Pitt a honra em encontrar a cura para o mal que assola todo o planeta.
A partir daí só um milagre para explicar a cena do acidente de avião (muito apavorante, por sinal). Dois grandes absurdos se sucedem nessa sequência: a primeira é ver o marido de Angelina Jolie sobreviver à tragédia junto a sua companheira de luta, uma soldada israelense salva por ele de um ataque zumbi. Todos os outros passageiros passam dessa pra melhor.
Segue-se com a estapafúrdia cena do local da queda. Com tanto lugar no planeta, a aeronave foi cair numa área próxima ao destino final: um laboratório médico localizado na Inglaterra. Nessas horas, o mundo realmente é muito pequeno!
A originalidade da história está concentrada na descoberta da ‘cura’ contra os mortos-vivos. Ela está representada na construção de uma seqüência claustrofóbica, apenas quebrada com risadas involuntárias, quando do encontro cara-a-cara entre um zumbi e a personagem de Brad Pitt. Numa tentativa de intimidar o galã, o monstro algoz emite um som com os dentes. O momento clichê é exposto e a risada é inevitável. Momento ‘terrir’ da produção.
O longa acertou em trazer a velha história envolvendo zumbis para a nossa realidade. Essa premissa deixa o terror e o suspense mais palpável. A relação de verossimilhança com nosso cotidiano dá-se de maneira feliz.
A trilha sonora de Marco Beltrami – com elementos parecidos com o soar das sirenes de alerta de perigo iminente – funciona na construção da tensão estabelecida pelo ataque zumbi. O efeito 3D só serve pra tirar dinheiro do espectador. Empolgante filme ‘mainstream’.
* Anderson Bruno é crítico audiovisual.