A JUSTIÇA DETERMINOU QUE A PREFEITURA DEVE PAGAR AUXÍLIO MORADIA ANTES DE RETIRAR OS MORADORES, MAS NÃO FOI ADOTADA NENHUMA ASSISTÊNCIA
Dengue ataca famílias na invasão do 17 de Março
Publicado em 06 de junho de 2013
Por Jornal Do Dia
Cândida Oliveira
candidaoliveira@jornaldodiase.com.br
Cerca de 15 pessoas, entre adultos e crianças, foram diagnosticadas com dengue na ocupação da praça no bairro 17 de Março, em Aracaju. No próximo dia 22, eles completam 90 dias no local. No dia 4 de julho podem ser despejados, já que a Prefeitura de Aracaju ganhou na justiça esse direito.
Segundo uma das integrantes da comissão de ocupação, Maria Glória Gonçalves, os agentes de endemias da Secretaria de Saúde de Aracaju estiveram no local ontem pela manhã e detectaram focos do mosquito transmissor.
"Eles vistoriaram alguns barracos e os focos estão nos barracos vazios – algumas pessoas têm famílias que residem próximo, então têm o espaço na praça, mas passam parte do dia em outro local. Quando chove a água acumula nas lonas plásticas, e assim gera o foco", relatou.
Dessa forma, a desconfiança de que alguns ocupantes estão com dengue se confirmou. "Alguns adultos e até crianças estavam febris, com dores no corpo, desconfiamos de dengue. Algumas delas chegaram a ir a uma unidade de saúde, onde ficou confirmado por meio do exame de sangue", afirmou ela.
A desempregada Edvânia dos Santos Menezes passou a semana passada com febre e dores no corpo. "Fui ao Hospital Fernando Franco, fiz o exame e confirmou que eu estava com dengue. Tomei alguns medicamentos e voltei para casa, mas continuo com dores", conta. Com dois filhos menores, ela não tem para onde ir. "Meu filho tem asma e sempre está tendo crise. Sou de Indiaroba e não tenho família em Aracaju para pedir ajuda. Nosso sonho é ganhar uma casa", diz.
A também desempregada Maria Izabel de Sá Santos está com a filha de dois anos doente há cinco dias. "Consegui paracetamol e é a única coisa que ela está tomando. Não sabemos mais o que fazer", comenta desesperada.
O local não oferece nenhum tipo de higiene, já que os barracos foram erguidos em uma praça. Não há banheiros, nem locais para banho. A comida é escassa e a água usada para beber é recolhida nos condomínios que ficam próximos aos barracos. "Tínhamos uma cozinha comunitária, mas ela está sem funcionar por falta de alimento. A Defensoria Pública fez algumas doações, mas não é suficiente porque tem muitas pessoas para comer", informa Glória.
Ainda de acordo com ela, atualmente a praça conta com 180 famílias. Adultos, idosos, crianças, gestantes e até crianças com necessidades especiais dormem embaixo de lonas plásticas. Por conta do grande volume de lixo, os mosquitos são parceiros constantes dos ocupantes. Entre os barracos é possível ouvir barulhos oriundos de tv ou rádio, e Glória explicou que a energia utilizada foi puxada dos postes, o famoso ‘gato’. "A Energisa já esteve aqui desligando tudo, mas religamos", expôs ela sem cerimônia.
Além da falta de moradia, o desemprego e a falta de escolas para as crianças são as principais reclamações. São 182 crianças e poucas delas frequentam a sala de aula.
As famílias são procedentes do bairro 17 de Março. Elas invadiram as casas e apartamentos vazios e após 8 meses morando nas residências as 880 famílias foram despejadas. Como não tinham para onde ir, ocuparam a praça.
Glória reclama do descaso da Prefeitura de Aracaju que ainda não esteve no local. "Representantes da Saúde não estiveram aqui, nem da Educação, pior ainda da Assistência Social e muito menos o prefeito".
Na Secretaria Municipal da Família e da Assistência Social, a informação da assessora de comunicação, Conceição Soares, é que o limite de concessão do auxílio-moradia já atingiu o ponto máximo. "Por mês, o município paga com recursos próprios R$ 300 às famílias que recebem o auxílio-moradia. São mais de R$ 200 mil mensalmente", esclareceu.
Ela contou também que a Prefeitura de Aracaju está na fase de captação de recursos para projetos de habitação. "Muitas dessas famílias já estão cadastradas na Prefeitura para receber suas casas, mas elas precisam aguardar a concretização desses projetos que devem acontecer nesta gestão".