Dias de luta

Não foi sem lágrimas. O documento de posse da Fazendo Tinguí, agora batizada assentamento Marcelo Déda, não foi uma dádiva caída dos céus, em obediência às preces de centenas de famílias necessitadas de um pedaço de chão para plantar. Embora a satisfação das autoridades presentes estivesse na cara, os assentados são os únicos e verdadeiros protagonistas dessa história. Só eles sabem o tanto que lutaram para fazer valer os próprios direitos sobre o lugar.
As famílias acampadas na Tinguí aguardavam esse momento há 17 anos. Foram quase duas décadas de luta, conflitos, enfrentamentos e incertezas. "Esse momento marca 17 anos de luta e resistência. Muitas famílias que chegaram aqui viram seus filhos crescerem, esses já constituíram suas famílias e todos permanecem aqui. É um momento em que lembramos de muitos companheiros que já se foram. Para o MST nacional, a Tinguí é o primeiro caso de adjudicação, o que abre uma nova porta para a reforma agrária no país e em Sergipe", disse a dirigente nacional do MST em Sergipe, Gislene Reis, em depoimento prestado para o Jornal do Dia.
Números do Incra/SE dão conta de que existem 210 assentamentos, com 9304 famílias trabalhando na lavoura, nos limites do Estado. Para que o número realmente traduza o confronto com o problema, entretanto, é preciso compreender os assentamentos para além da produção agrícola, entendendo que a riqueza gerada depende de infraestrutura, habitação, escola e lazer. Trocando em miúdos, é necessário ter em mente que os assentamentos são tão dependentes de políticas públicas quanto qualquer unidade da federação.
Nos últimos anos, convênios firmados entre o Incra e Governo do Estado promoveram avanços importantes na obtenção de áreas para reforma agrária, gerando  números históricos no assentamento de famílias. No caso do assentamento Marcelo Déda, o primeiro passo já foi dado. Agora é necessário dar condições para que os assentados façam usufruto do pedaço de chão que lutaram tanto para conquistar.