Terça, 20 De Maio De 2025
       
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DOIS MOMENTOS


Publicado em 04 de março de 2020
Por Jornal Do Dia


 

Os papéis se inverteram em Sobral, próspera comuna cearense, onde policiais amotinados, potencialmente armados, longe de uma reivindicação civilizada dispararam contra o senador Cid Gomes. A causa salarial, justa, portanto, foi diluída pela solidariedade ao desmonte da democracia
* Inocêncio Nóbrega
Dois momentos, distantes no tempo entre si, porém bem próximos pelas circunstâncias históricas em que viveram. O primeiro deles, Três de Março de 1964, quando vicejava o golpe de abril seguinte, nos traz uma história bastante peculiar, balançando a sociedade de João Pessoa. Na manhã desse dia, um grupo de jovens estudantes secundaristas, do Lyceu Parahybano, procurou o Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito, que funcionava, à época, numa das praças centrais da cidade.
Logo cedinho corria a notícia de que o governador do então estado da Guanabara, Carlos Lacerda, nada menos que o "Corvo da Olaria", viria à capital paraibana, a fim de arregimentar correligionários, de extrema direita, visando a candidatura presidencial, por ele postulada. Ainda pela manhã, no saguão do estabelecimento de ensino superior, instalou-se um serviço de som, denunciando a anunciada visita, procedente de Salvador, onde se encontrava. Não demorou a participação de outros companheiros: sindicalistas, jornalistas, pessoas do povo, como nós, somavam-se a uma plêiade de 26 universitários, dentre eles eu, depois feridos nas nossas liberdades, tivemos de submeter a IPM, além dos direitos de estudo suspensos, quando adveio a ditadura. Entretanto, inflamáveis discursos, aos poucos irritavam os adversários, que se arregimentavam defronte ao prédio da Faculdade.
A reação foi coordenada por dois ex-deputados, Joacil de Brito Pereira e Marcus Odilon Coutinho, já falecidos, este, há poucos dias. Juntos a um terceiro personagem pretenderam, com um enorme ariete, arrombar a porta, na intenção de nos massacrar, mas foram dispersos pelos homens da segurança pública e do Exército. Nossa única arma era a voz em defesa da Petrobrás, pela democracia e contra a conduta de um governante, responsável pela matança de mendigos, no Rio de Janeiro. JK acenava sua reeleição, o golpe de 1964 barrou tal pretensão, de igual forma, a deposição de Dilma Rousseff foi uma escalada com vistas evitar o retorno das alas progressistas ao Poder.
Os papéis se inverteram em Sobral, próspera comuna cearense, onde policiais amotinados, potencialmente armados, longe de uma reivindicação civilizada dispararam contra o senador Cid Gomes. A causa salarial, justa, portanto, foi diluída pela solidariedade ao desmonte da democracia, ora imperante, casado com a doutrina de desestabilizar governos estaduais nordestinos, pondo em perigo o princípio republicano do federalismo.  Vejo semelhança e coerência nos dois episódios, a começar pela sintonia histórica entre duas figuras nacionais, com amplas forças de arregimentaçãocom objetivos impatrióticos, disseminando o ódio, destruindo a educação, calando a imprensa, entregando o País.
* Inocêncio Nóbrega, jornalista
inocnf@gmail.com

Os papéis se inverteram em Sobral, próspera comuna cearense, onde policiais amotinados, potencialmente armados, longe de uma reivindicação civilizada dispararam contra o senador Cid Gomes. A causa salarial, justa, portanto, foi diluída pela solidariedade ao desmonte da democracia

* Inocêncio Nóbrega

Dois momentos, distantes no tempo entre si, porém bem próximos pelas circunstâncias históricas em que viveram. O primeiro deles, Três de Março de 1964, quando vicejava o golpe de abril seguinte, nos traz uma história bastante peculiar, balançando a sociedade de João Pessoa. Na manhã desse dia, um grupo de jovens estudantes secundaristas, do Lyceu Parahybano, procurou o Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito, que funcionava, à época, numa das praças centrais da cidade.
Logo cedinho corria a notícia de que o governador do então estado da Guanabara, Carlos Lacerda, nada menos que o "Corvo da Olaria", viria à capital paraibana, a fim de arregimentar correligionários, de extrema direita, visando a candidatura presidencial, por ele postulada. Ainda pela manhã, no saguão do estabelecimento de ensino superior, instalou-se um serviço de som, denunciando a anunciada visita, procedente de Salvador, onde se encontrava. Não demorou a participação de outros companheiros: sindicalistas, jornalistas, pessoas do povo, como nós, somavam-se a uma plêiade de 26 universitários, dentre eles eu, depois feridos nas nossas liberdades, tivemos de submeter a IPM, além dos direitos de estudo suspensos, quando adveio a ditadura. Entretanto, inflamáveis discursos, aos poucos irritavam os adversários, que se arregimentavam defronte ao prédio da Faculdade.
A reação foi coordenada por dois ex-deputados, Joacil de Brito Pereira e Marcus Odilon Coutinho, já falecidos, este, há poucos dias. Juntos a um terceiro personagem pretenderam, com um enorme ariete, arrombar a porta, na intenção de nos massacrar, mas foram dispersos pelos homens da segurança pública e do Exército. Nossa única arma era a voz em defesa da Petrobrás, pela democracia e contra a conduta de um governante, responsável pela matança de mendigos, no Rio de Janeiro. JK acenava sua reeleição, o golpe de 1964 barrou tal pretensão, de igual forma, a deposição de Dilma Rousseff foi uma escalada com vistas evitar o retorno das alas progressistas ao Poder.
Os papéis se inverteram em Sobral, próspera comuna cearense, onde policiais amotinados, potencialmente armados, longe de uma reivindicação civilizada dispararam contra o senador Cid Gomes. A causa salarial, justa, portanto, foi diluída pela solidariedade ao desmonte da democracia, ora imperante, casado com a doutrina de desestabilizar governos estaduais nordestinos, pondo em perigo o princípio republicano do federalismo.  Vejo semelhança e coerência nos dois episódios, a começar pela sintonia histórica entre duas figuras nacionais, com amplas forças de arregimentaçãocom objetivos impatrióticos, disseminando o ódio, destruindo a educação, calando a imprensa, entregando o País.

* Inocêncio Nóbrega, jornalistainocnf@gmail.com

 

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