Empresários sergipanos reclamam dos preços cobrados pela Sergás
Escurial fecha fábrica em Socorro e reclama da Sergás
Publicado em 17 de maio de 2019
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
A empresa Cerâmica Sergipe Ltda, respon- sável no Estado pela fabricação dos produtos da marca Escurial, anunciou ontem a decisão de paralisar o funcionamento de sua fábrica em Nossa Senhora do Socorro (Grande Aracaju). O processo de hibernação começou ontem mesmo e vai resultar na demissão de todos os empregados lotados na unidade. Em um comunicado, a empresa afirma que vai se retirar de Sergipe e transferir sua linha de produção, o que deve prejudicar cerca de 600 empregos diretos e indiretos.
A decisão da Escurial foi atribuída ao custo cobrado pelo gás natural fornecido pela Sergás, distribuidora de gás natural que tem o Governo do Estado como um de seus acionistas. No comunicado, em um forte tom de crítica, a cerâmica diz que "o motivo determinante para essa decisão foi o preço do gás cobrado pela concessionária", e que este é o "idêntico motivo da hibernação da Fafen [a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobras, em Laranjeiras] e certamente de outras fábricas em futuro próximo".
Sem citar dados ou outros detalhes, a cerâmica manifestou insatisfação com o preço do gás em Sergipe, classificado por fontes do setor como um dos mais caros da região Nordeste, e confirmou que moveu uma ação judicial por perdas e danos contra o Estado, afirmando que "a política de preços da Sergas, encontra-se abusiva e juridicamente ilegal". A Escurial diz ainda que, com a hibernação da fábrica sergipana, deu início a um processo de mudanças em sua matriz energética, juntamente com a realocação de sua estrutura em outro estado no Nordeste.
"A perda de mais de 600 empregos diretos e indiretos, a perda de arrecadação de tributos, redução de ambiente de negócios, são fatos que se sobrepõe a qualquer discurso teórico-político. Nenhuma empresa ou empresário tem satisfação em hibernar, mudar ou relocar uma Unidade, mas as condições operacionais só existem se houver uma política real de fomento à atividade produtiva", ataca a nota da Cerâmica Sergipe.
Resposta – A reação do Governo foi imediata e veio por outra nota em tom elevado, emitida pela Sergás. Ela confirmou que suspendeu o fornecimento de gás da Escurial, "devido a falta de pagamento das faturas mensais, diferente do acordado em contrato estabelecido e em conformidade com o acordo de recuperação judicial vigente". A dívida seria o equivalente a a mais de 100 dias do seu consumo diário. A distribuidora acusou os gestores da cerâmica de descumprirem um acordo anterior firmado para quitar a dívida.
"A Sergipe Gás S/A forneceu gás natural à Cerâmica Sergipe Ltda e os gestores da Escurial não arcaram com a responsabilidade acordada (…) Para a Sergás, o que aconteceu foi o consumo do fluxo de caixa da companhia, o que torna o fornecimento de seus serviços financeiramente inviável enquanto a inadimplência das referidas parcelas não for resolvida", diz a nota de esclarecimento.
A concessionária deixou claro ainda que não é responsável pelo processo de hibernação da Fafen, iniciado no começo deste ano. "Na realidade, a Sergás não fornece e nunca forneceu gás natural à Fabrica de Fertilizantes do Estado de Sergipe, mostrando mais um equívoco dos gestores da Escurial. Além disso, lembramos que, mesmo com a participação do Estado de Sergipe como acionista, a Sergás é uma companhia de direito privado, o que a caracteriza como uma sociedade de economia mista. Dito isso, a companhia honra com a concessão feita pelo Estado, ao mesmo tempo que precisa trabalhar com a sua própria sustentação financeira", rebateu.
A distribuidora encerrou a nota reforçando seu "compromisso em ampliar a infraestrutura e promover o desenvolvimento do estado sustentável de Sergipe sempre buscando soluções para incrementar a competitividade do gás natural no estado e, consequentemente, incentivar as indústrias locais por meio de ações como a Chamada Pública de novos supridores de gás natural". Atualmente, o gás distribuído pela empresa é fornecido pela Petrobras, que também é uma de suas acionistas.