Terça, 12 De Novembro De 2024
       
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Eu, farto


Publicado em 05 de outubro de 2024
Por Jornal Do Dia Se


Num piscar de olhos(Arquivo)

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Um amigo pede opinião a respeito de versos recém publicados, embalados em belo projeto gráfico, recomendados por assinatura impressa em letras garrafais na capa dura do volume. Confesso a ele, primeiro, depois ao leitor deste Jornal do Dia: ando às voltas com insistente fadiga de informação.
É quase uma alergia. Evito molhar os pés na enxurrada de lançamentos diários, à distância de um link, uma fonte inesgotável de irrelevâncias perfurada pela tecnologia.
Apesar de curioso por ofício e natureza, adio hoje a audição de um álbum novo, por exemplo, até não poder mais. Nunca foi tão fácil “ouvir a nova canção do Roberto”, baby. E, no entanto, eu declino de todos os convites. Estou farto.
A maior parte do acervo preservado na confusão de minha cabeça, os golpes desferidos contra os meus nervos e o meu coração, foi concebida no século passado. Assim, lido com a passagem dos grandes vultos com certo cinismo. Morre Milan Kundera, com a consternação noticiosa mais justa e esperada. Eu acaricio volumes gastos, caindo de velhos, maltratados pelo uso.
Volumes antigos surpreendem a cada nova leitura. Os bons livros, aos quais me refiro aqui, naturalmente, atravessam os homens e o próprio tempo como faca, sussurram sempre e mais uma vez novas canções.
Sim, também acontece de autores vivos chamarem a minha atenção. Mas estes, eu desconfio, são velhos de pouca idade. Escrevem versos, romances, épicos, escrevem premidos por um instinto maníaco. Os verdadeiros autores ainda vivos sabem que num piscar de olhos estarão repousando no fundo de um caixão.
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