Forró, sem dúvida

Encontro Nino Karvan  em trajes mínimos – sunga e Ray-Ban, mais um cachorro de dondoca a tiracolo. Concluo que a sua personalidade artística conversa muito bem com um fim de tarde a beira mar.

‘Coração bate por você’, o álbum mais recente, recém lançado, tem algo de uma ingenuidade litorânea em sua simplicidade declarada. As canções se valem de certa nudez, dispensam os panos grossos dos artifícios mais pesados. O forró mais duro aqui se faz livre, leve e solto. E animado.

Forró, sem dúvida nenhuma. Ainda assim, a guitarra de Fred Andrade berra alto, com toda a personalidade do músico pernambucano. O maior power trio do mundo (sanfona, triângulo, zabumba), ganha o veneno guardado em seis cordas de aço. O tom, no entanto, é de reverência à tradição.

Nino Karvan, o forrozeiro, não parece interessado em inventar de novo a roda. Antes, evoca a rainha Clemilda, em melodias sem curvas, diretas como um pregão de feira. Rimas fáceis, métrica enxuta, divisão de cordel, todo o álbum está ambientado na festa soterrada pelos grandes eventos que deram fim à cultura junina. O São João cantado aqui, por assim dizer, já não existe mais.

Ouço ‘Coração bate por você’ com bons ouvidos e também com a memória. O crepitar de uma fogueira estalando de calor, não sei se bem escuto ou se me lembro, a mim me comove.