Hoje tem novo ato de protesto. No anterior, 35 foram presos
Publicado em 27 de junho de 2013
Por Jornal Do Dia
Manifestantes voltam hoje às ruas de Aracaju
Será realizada hoje em Aracaju mais uma manifestação denominada ‘Acorda Aracaju, Acorda Sergipe’. Marcada para começar às 16h e tendo a Praça Fausto Cardoso como ponto de concentração, a expectativa é que milhares de manifestantes possam mais uma vez aderir ao movimento e juntos reivindiquem por melhorias emergenciais em serviços públicos, a exemplo do transporte, saúde e educação. Ciente das ações de violência e depredação protagonizadas por vândalos na noite da última terça-feira, 25, a direção do ‘Movimento Não Pago’, um dos grupos responsáveis pela caminhada, informou que o objetivo do ato é ser produtivo e pacífico.
De acordo com o economista Demétrio Varjão, membro do movimento, desde o início das mobilizações no Brasil muitos avanços já foram conquistados pelo povo em prol do progresso da nação. Um desses aspectos positivos analisados por ele é a redução de R$ 2,45 para R$ 2,35 no valor da tarifa do transporte público da Grande Aracaju. "A pressão está surtindo efeito, mas muita coisa ainda está errada. Essa redução de R$ 0,10 no preço da passagem não passa de uma manobra política onde os vereadores da base de apoio ao prefeito João Alves Filho (DEM) tentam passar uma imagem de defensores dos desejos dos usuários", disse.
No final do mês passado 17 vereadores votaram a favor do reajuste de 8,8% no preço da tarifa. Com essa redução, o reajuste, se comparado ao valor cobrado até maio (R$ 2,25) é de 4,4%. Apesar de o reajuste ficar abaixo da inflação nacional, Demétrio garantiu que o valor ideal seria de R$ 1,92, ou, em última instância, o chefe do executivo municipal deveria congelar o valor da tarifa deixada pelo ex-prefeito Edvaldo Nogueira. "Diante da precariedade do serviço, não vejo alternativa melhor que não aplicar um reajuste. As queixas relacionadas ao baixo número de veículos, qualidade dos ônibus e falta de pontualidade são constantes e infelizmente apenas cinco vereadores aparentam estar defendendo os interesses da população", pontuou.
Em meio a tantas manifestações públicas e a pressão que vem sofrendo ao longo dos últimos 15 dias, na última terça-feira, 25, em Brasília, os deputados federais rejeitaram a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37 que tinha por objetivo tirar o direito de promotores de justiça do Ministério Público Estadual e Federal em participar de investigações sobre desvio de verbas públicas e demais tipos de falcatruas. Em entrevista concedida ao JORNAL DO DIA, o promotor sergipano Jarbas Adelino se mostrou satisfeito com o resultado da votação extraordinária e disse que essa rejeição só foi conquistada graças ao apoio dos brasileiros.
"Por um momento chegamos a acreditar que os parlamentares iriam aprovar a PEC na Câmara dos Deputados e todo o nosso trabalho de investigação poderia ser invalidado. Sabíamos que no Senado poderíamos conquistar um maior apoio, mas graças ao desejo dos brasileiros, conseguimos êxito também junto aos federais", afirmou. Ao todo, dos 513 deputados federais, apenas nove votaram a favor dos interesses da PEC 37, entre eles, o sergipano Mendonça Prado (DEM). Em Aracaju, o voto de Mendonça foi avaliado por muitos populares como: ‘incoerente’, ‘desrespeitoso’, e ‘vergonhoso’.
Segundo o maquiador Paulo Torres, o estado de Sergipe está ‘mal’ representado no congresso nacional. "Primeiro André Moura (PSC) contribui diretamente para a escolha do deputado Marco Feliciano para a Comissão dos Direitos Humanos, agora, pra piorar a situação, Mendonça que antes me parecia um parlamentar integro e sensato, vota a favor dessa PEC", lamentou.
Fora da pauta de reivindicações, hoje a tarde os manifestantes voltam às ruas para pleitear por reforma política, redução no preço da passagem do ônibus, e por mais transparência em todas as tramitações que envolvem o dinheiro público.
Garantindo tentar esquecer as cenas de violência dessa semana, a estudante Karina Dantas Fonseca ressaltou o trabalho desenvolvido pela Guarda Municipal e pelos agentes da Tropa de Choque. "Eles se mostraram muito profissionais. Até mesmo quando alguns tentavam derrubar o portão de acesso à prefeitura, todos se mostravam pacientes e preparados para conter sem usar da violência os ânimos dos mais exaltados. O que devemos deixar claro é que estamos nas ruas devido a uma propaganda enganosa que João fez durante a campanha eleitoral. Na realidade, essa mobilização quem fez foi João, e só iremos recuar quando os postos de saúde apresentar melhorias e a passagem da tarifa seja reduzida", declarou.
PM prende 35 e muda a estratégia
Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br
Após os casos de vandalismo, confrontos e agressões registrados no segundo protesto do movimento "Acorda Aracaju", durante a noite de terça-feira, a Polícia Militar admite que poderá mudar a sua estratégia de policiamento para o terceiro protesto, marcado para acontecer hoje, a partir das 16h, com concentração na Praça Fausto Cardoso (Centro). O Comando Geral da corporação deve se reunir hoje de manhã para avaliar o esquema de segurança que vem sendo adotado desde o início das manifestações, sem descartar a inclusão de policiais fardados em contato com os participantes do ato – o que vinha sendo evitado nas duas primeiras passeatas.
A reunião foi marcada para o Quartel da PM, na Rua Itabaiana, centro da capital, e deve contar com a presença dos líderes do ‘Movimento Não Pago’, que organiza os protestos. Eles foram chamados pelo Comando da PM para participar da reunião. "Nós vamos fazer uma reavaliação de todo o trabalho desempenhado no dia de ontem e certamente aplicaremos a melhor estratégia para evitar que atos de violência voltem a acontecer. Vamos chamar todas as lideranças, vamos conversar, chegar a um entendimento sobre a melhor forma de atuação da polícia, e esperamos que esses atos de violência não se repitam. Acreditamos na sociedade, acreditamos nos cidadãos de bem", exortou o coronel Jackson Nascimento, comandante de Policiamento da Capital. Até o fechamento desta edição, o ‘Não Pago’ não confirmou presença na reunião.
O objetivo é dar uma resposta mais eficaz a incidentes semelhantes aos de anteontem, quando um grupo misturado aos manifestantes tentou invadir o Centro Administrativo da Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA), no Cj. Castelo Branco (zona oeste) e incendiou um ônibus da Viação Modelo que fazia a linha Circular Indústria e Comércio 1 e havia sido parado durante a chegada dos manifestantes ao Terminal de Integração do DIA. O veículo ficou completamente destruído. Ainda no DIA, cerca de 30 policiais militares que reforçavam a segurança no terminal ficaram acuados pelos vândalos por cerca de meia hora.
O Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) e o Esquadrão de Polícia Montada (EPMon) chegaram ao local e foram atacados com pedras, pedaços de pau, rojões e bombas juninas. Os PMs reagiram e dispersaram os ocupantes da avenida com tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. "Vale ressaltar que a SSP procurou ao máximo evitar o uso da força, somente o fazendo, quando a manifestação havia se resumido bastante. No confronto com os arruaceiros, vários policiais e os animais da Cavalaria foram lesionados", destacou o major Paulo César Paiva, relações públicas da PM. Ao todo, cinco PMs ficaram feridos, incluindo uma policial feminina que teve o braço quebrado.
Houve também registros de ameaças e agressões a jornalistas que trabalhavam na manifestação. O cinegrafista José Mário, da TV Sergipe, o repórter Alex Carvalho, da rádio Ilha FM, e a fotógrafa Ana Lícia Menezes, do jornal Cinform, foram atingidos por pedradas e tiveram ferimentos leves. A equipe da TV Sergipe chegou a ser expulsa do Terminal do DIA pelos manifestantes mais radicais e outros também ameaçaram atirar rojões contra o repórter Evenilson Santana e o cinegrafista Remi Costa, da TV Atalaia. As agressões foram repudiadas pelos sindicatos de Radialistas (Sterts) e de Jornalistas (Sindijor).
Ontem, a PM confirmou que 35 pessoas foram detidas durante a manifestação e levadas, em sua maior parte, para a 2ª Delegacia Metropolitana (Getúlio Vargas). Destes, sete foram autuados em flagrante pela depredação do ônibus e reconhecidos a partir de imagens do Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp) e do Serviço Reservado da PM (PM-2). Reinaldo dos Santos, 26 anos; Edvânio Santana Albuquerque, 19; e Adenilton Santiago Filho, 30 (que já tem passagem por tráfico de drogas), permaneceram presos pelo crime de incêndio qualificado, previsto no artigo 250 do Código Penal Brasileiro. Os outros, Marcelo Oliveira Barreto, 25 anos, Allan Santos Pereira, 18, e dois adolescentes foram autuados por dano ao patrimônio e tiveram que pagar uma fiança de dez salários mínimos (R$ 6.780).
Acompanhado pelo chefe do Estado Maior Geral da PM, coronel Luis Fernando Almeida, os oficiais admitiram a possibilidade de aumentar o efetivo de policiais envolvidos diretamente com a segurança do evento, que pode chegar a mais de 700 soldados – entre os de serviço e os paisanos, isto é, vestidos com roupas comuns. Segundo Jackson, um "plano de chamada" para convocar policiais de folga ou em outras funções já foi acionado pelo comando. Está decidido também que parte da tropa ficará aquartelada em companhias e batalhões da corporação, sendo acionada em casos mais pontuais.
O coronel Luis Fernando ressaltou que todo o material colhido pelo Serviço Reservado, bem como imagens registradas pelo Ciosp, pela SMTT e por jornalistas que cobriram o ato, será usado em investigações da Polícia Civil para identificar os outros participantes dos atos violentos durante o protesto de anteontem. Eles também poderão ser responsabilizados pelos prejuízos causados ao patrimônio público. O secretário adjunto da Segurança Pública, João Batista Santos Júnior, reiterou que o ato de vandalismo praticado por um pequeno número de manifestantes não vai tirar o brilho da festa de democracia e muito menos influenciar o comportamento da polícia em relaçao às passeatas. "Acreditamos no direito constitucional das pessoas de se expressarem e temos o dever legar de preservar que estes protestos ocorram de forma pacífica e ordeira", avaliou o secretário.