Quarta, 26 De Março De 2025
       
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Menos um


Publicado em 16 de fevereiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Sem medo de ser feliz

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

Tenho mais de 40 anos. A idade me obriga a lidar com a ausência de gente a quem estimo demais. Parentes, amigos, autores cujo trabalho eu admiro.
No dia 15 de janeiro, meu pai bateu as botas. Ontem, um mês depois, Arnaldo Jabor passou desta para melhor. Antes disso, perdi a risada venenosa de Amaral Cavalcante. Os dias passam, implacáveis. Resta sobre tudo uma impressão vaga de saudade, tão leve e sutil quanto uma camada de poeira fina.
Jabor não foi o cara mais bem quisto do mundo, mas deixa como legado uma filmografia extraordinária, muito acima da média tupiniquim. Hoje, quando as boas intenções de um diretor lhe bastam para conquistar o aplauso apaixonado das platéias, mundo afora – vide o superestimado ‘Bacurau’ (2019), de Kleber Mendonça Filho – poucos são capazes de atentar para a beleza escandalosa de seus filmes.
Para mim, polêmicas à parte, Jabor foi sobretudo o autor de grandes filmes. Entre estes, dois trabalhos me emocionam de modo muito particular. ‘Eu te amo’ (1980), com
Paulo César Pereio e Sônia Braga, pode ser definido como um delírio audiovisual, repleto de pulso e amor à vida. ‘A suprema felicidade’ (2010), com Marco Nanini, lança mão de um cadinho transbordante de nostalgia para lembrar como o carioca e, por extensão, o brasileiro, já foi capaz de se encontrar na doçura, apesar de todos os pesares, sem medo de ser feliz.
Segundo os mais velhos, não há nada tão certo na vida, como a morte. Mas esta certeza não faz de ninguém um sujeito menos solitário. Eu mesmo olho em volto com receio mais ou menos resignado e a cada novo obituário redigido conto com os meus botões: “menos um”.

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