Moradores de Maruim interditam BR 101
Publicado em 18 de junho de 2013
Por Jornal Do Dia
Milton Alves Júnior
miltonalvesjunior@jornaldodiase.com.br
Moradores do povoado Pau Ferro, município de Maruim, realizaram na manhã de ontem mais uma manifestação na BR 101 para reivindicar junto ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), a construção de uma passarela e instalação de redutores de velocidade para os automóveis.
Indignados com os constantes acidentes fatais que são registrados na região, os manifestantes criaram uma barreira de fogo utilizando pneus e interditaram a via por mais de seis horas. Com a ação, equipes da Polícia Rodoviária Federal (PRF/SE) foram acionadas e tentaram convencer os moradores a desbloquearem parte da pista. Um congestionamento superior a dez quilômetros foi registrado em ambos os sentidos.
Recentemente, ao tentar atravessar a pista com destino à escola, Susany Santos Paz, de 16 anos, foi atropelada por um carro de passeio e não resistindo ao impacto, morreu no local enquanto aguardava a chegada de equipes de resgate. De acordo com Maria do Rosário, uma das únicas manifestantes que decidiu conceder entrevista e dizer o nome, os moradores cansaram de presenciar fatalidades e melhorias não serem promovidas pelos órgãos competentes. "São vários os casos de acidente com vítima e ninguém faz nada pra resolver esse problema. Cansamos de ficar apenas chorando pelas perdas e decidimos exigir melhorias", disse.
Temendo uma possível repressão por parte dos policiais, líderes da comunidade orientaram as pessoas a não revelarem à imprensa os respectivos nomes. Denominado Movimento "Voz da Comunidade", o ato contou com aproximadamente 60 manifestantes que se mantiveram unidos na tentativa de impor autoritarismo. Essa atitude, na avaliação de um borracheiro do povoado, foi fundamental para evitar que motoristas tentassem romper a barreira criada pelos manifestantes. "Um engraçadinho ameaçou passar por cima de tudo, inclusive da gente. Foi bom porque todo mundo foi pra cima dele e num instante, mesmo sem tocar uma mão nele, soube voltar pra dentro do carro. Aqui é assim, quase escoteiros, um por todos, todos por um".
Ao tomar conhecimento da mobilização que foi iniciada por volta das 5h30, o superintendente do Dnit, Otávio Soares, garantiu que a solução para reduzir o número de acidentes seria exclusivamente a construção de uma passarela. Segundo ele, a instalação de redutores de velocidade, por determinação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), só pode ser possível caso um estudo técnico mostrando dados detalhados seja devidamente apresentado ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Para reforçar o patrulhamento da região, equipes da Tropa de Choque da Polícia Militar foram acionadas e ao chegar ao local do ato, os manifestantes decidiram reunir o maior número possível de crianças, gestantes e idosos na pista.
Conforme relatos de uma moradora, que também preferiu não se identificar, durante a última manifestação realizada pela comunidade, policiais da Choque utilizaram balas de borracha para reabrir a pista. "Foi uma barbaridade, nos sentimos inúteis e sem voz para reivindicar nossos direitos. Como a gente já tinha debatido a possibilidade dos policiais voltarem a usar essas armas decidimos usar nossas crianças e idosos como escudos. Queremos ver até onde eles vão com essa ignorância toda", afirmou. Após horas de negociação, os manifestantes aceitaram deixar a via com a garantia de que representantes da comunidade irão participar de uma reunião extraordinária com gestores municipais e do Dnit na sede da prefeitura.
Promessas – Apesar de não acreditarem integralmente nas promessas feitas pelos gestores, os moradores garantiram realizar uma nova interdição da rodovia caso o acordo não seja cumprido. De acordo com o jovem Pedro Lima, uma nova remessa de pneus velhos e galhos de árvore será estocada, caso uma nova manifestação seja realizada. "A comunidade decidiu atender ao pedido de reabertura da pista, mas com a promessa de uma reunião ainda hoje, ou amanhã. Se não acontecer, os motoristas podem ter certeza que não vai demorar muito pra enfrentar outros congestionamentos".
Quanto ao local do armazenamento dos pneus, o estudante concluiu dizendo: "Vocês percebem que são muitas coisas que botamos pra queimar. Se deixar na própria comunidade é bem capaz da polícia descobrir e apreender. Eles vivem nos perseguindo, mas a nossa voz não vai se calar por aqui".