O amor de verdade

 

O ator Vitor de Castro, a face pública e encaracolada do canal Deboche Astral, achou por bem se dirigir aos próprios seguidores para lhes dar uma satisfação: Ele e o jornalista Vinícius Cordeiro se divorciaram. 

O anúncio em vídeo tem uma atmosfera de pesar e até a sugestão de lágrimas ainda um tanto inconformadas. Apesar da dor, no entanto, o ator lembra: durante muito tempo, ele e o ex-companheiro foram felizes juntos. Durante dez anos, o casal deu certo, sim.

Os poetas precisam aprender com Vitor de Castro, precisam cantar a separação com a mesma beleza com que retratam o encontro, o enlace. Os poetas precisam aprender com a minha mãe. A felicidade, Dona Eliene ensina, é uma colcha de retalhos. Os poetas precisam, num verso urgente, renunciar ao peso esmagador da eternidade. 

A idealização romântica, notável na rigidez enclausurante de contratos estanques,já mandou uma verdadeira multidão de ingênuos para a cova. Mais das vezes, os prisioneiros do amor romântico vivem enjaulados, uma vida miserável.

Recorro a Drummond, mais uma vez, leio de novo o seu Consolo na praia. Extrapolo o poema e afirmo, sem medo de errar: quem cede ao ressentimento e reescreve a própria história com palavras de maldizer jamais amou de verdade. 

Teimoso, vivo um terceiro casamento. Prestes a completar 44 anos, aguardo o nascimento de Lorena e percebo que o meu coração não cansou, ainda bate e apanha, como o coração de todo mundo. Contra todas as decepções, só eu e Deus sabemos, permaneço cativo da alegria breve com que tranço uma colcha enorme, retalho a retalho, capaz de nos cobrir inteiros – eu, Barbara e nossa filha, artesãos de nossa própria felicidade.