Terça, 10 De Dezembro De 2024
       
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O lado B de Aracaju


Publicado em 17 de março de 2015
Por Jornal Do Dia


Documentário sobre o Bairro Industrial constrói ponte entre cidade e memória

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

Uma ponte entre cidade e memória. ‘Chica Chaves’, documentário dirigido a quatro mãos por Sergio Borges e Gabriela Caldas, não pretendia mais do que a composição de uma elegia sentimental e suburbana, inspirada na experiência do próprio diretor, boa parte de seus melhores anos perambulando pelo Bairro Industrial. Abriu passagem, no entanto, para uma multidão de homens negros e pobres, esquecidos atrás de fachadas envelhecidas e vacilantes, varridas para longe da vista em tributo à esquizofrenia do moderno – uma tara que ainda nos cobra caro e promete matar o que resta do nosso mangue.

O Bairro Industrial, o tradicional Chica Chaves que batiza o curta metragem, é uma espécie de Lado B da aventura consagrada nos livros de história, o duplo da cidade medida pelos esquadros de Pirro. Ali, onde operários e pescadores cavoucaram o umbigo de Aracaju, só a sirene das fábricas era regular e tão certa. Tudo torto. Pés enfiados no lodo. Para quem tirou gozo e sustento entre os muros altos da Têxtil e da Sergipana, entretanto, Aracaju nunca teve outro centro.
Uma narrativa ágil, destrinchada pelos próprios protagonistas da história, com belas tomadas da paisagem, amparada pelas melhores letras de Amando Fontes. ‘Os Corumbas’ serve de esteio e oferece um testemunho valioso ao filme. Assim como as façanhas do Confiança. Se há um herói no filme de Borges e

Caldas, contudo, este é capturado no dorso nu da população, sempre distante, moradores sem nome.
Contemplado com o prêmio Mario Cabral, lançado pelo Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira, ano passado, ‘Chica Chaves’ foi exibido ontem no Centro Cultural de Aracaju e já está disponível no Youtube. Um presente oferecido pela passagem dos 160 anos da Capital Sergipana. Os fogos de artifício, no entanto, não podem falar mais alto do que a advertência. Toda vez que uma casa antiga é demolida no São José, por exemplo, e as feições da cidade perdem terreno para a construção de mais um estacionamento, o Bairro Industrial, a noção de quem somos, sente o baque.

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