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OS CAMINHOS DE RESISTENCIA E EVOLUÇÃO DO FUTEBOL FEMININO DO BRASIL


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Publicado em 29 de julho de 2023
Por Jornal Do Dia Se


* Vânia Azevedo e Thauan Fonseca
 
São inúmeras as pessoas que deram a sua contribuição para que o futebol feminino alcançasse o patamar em se encontra. Porém, não há como falar em evolução, conduta disciplinar, preparação física e mental, sem citar Rene Simões e a sua determinação de chegar à Olimpíada de Atenas com uma equipe em condições de disputar o título.
Talvez muitos não tenham conhecimento, mas o nome René Simões não chegou ao comando da seleção feminina que iria à Atenas por simples acaso. Depois de ter seu nome recusado para assumir a seleção olímpica masculina, dois anos depois recebe o convite da CBF para treinar a equipe brasileira, só que dessa vez seria a equipe feminina.
Com um projeto apresentado pela CBF e batizado por René Simões de ALQUIMIA OLÍMPICA -Transformando sonho em ouro, o técnico partiu para a análise do material do que possuíam:um sonho, jogadoras talentosas; informações negativas do caráter individual e do grupo; panelinhas; brigas; nenhuma memória de treinamentos;uma nova comissão técnica e todas as possibilidades da CBF no desenvolvimento do projeto, foi o que enumerou o treinador.
Recebidas no aeroporto no dia 08 de março de 2004 pelo técnico e sua comissão técnica com uma rosa e um beijo no rosto, evidentemente que o tratamento recebido já evidenciava o primeiro choque de gestão, provocando na jogadora Kelly o seguinte comentário: “eu achei muito meiga aquela rosa, mas me perguntava por que os outros nunca fizeram isso. Eles mal falavam conosco na nossa apresentação!”
O grupo seguiu para a Granja Comary, Teresópolis, onde ficariam durante os seis meses de preparação para as Olimpíadas de Atenas,onde a qualidade da comissão técnica, por si só, já falava o quanto se poderia esperar em termos de qualidade desse trabalho e os frutos que poderiam render.
Se o dia estava reservado ao trabalho físico e técnico, a noite estava reservada à recuperação física e mental, através de palestras e trabalho mental para proporcionar relaxamento e uma boa noite de sono. O trabalho da psicóloga foi intensamente exigido, inclusive com terapias,visto que os problemas de comportamento precisariam ser observados e sanados para um melhor aproveitamento do trabalho em grupo. Assim também foi a alimentação. Esta provocou sistemática mudança de hábitos, sempre acompanhada de muita conversa para que a aceitação acontecesse da melhor maneira possível; demonstrando o quanto seria proveitoso, para que o melhor de cada uma fosse extraído. E até mesmo os problemas de visão antes ignorados, dessa vez ganharam a atenção da comissão técnica e todas passaram pelo oftalmologista. A crioterapia passou a ser uma realidade na vida das jogadoras, narecuperação e prevenção de lesões, solicitação inovadora na vida delas que teve na indicação da fisioterapeuta inesperada aceitação do grupo.
Entre reuniões, palestras, terapias, passeios e muito trabalho, o grupo foi adquirindo um padrão de comportamento, onde o fator educação não demorou a ganhar pontos. A nova postura do grupo cada vez mais agradava ao técnico, e todos esses ensinamentos acabavam refletindo no comportamento da equipe que, apesar dos primeiros resultados negativos na fase preparatória, não perdia o contato com o sonho da medalha de ouro e seguiam trabalhando e evoluindo em todos os aspectos.
A véspera da viagem à Atenas encontrou um grupo que não apenas desenvolveu substancialmente a sua parte técnica, como assimilou no dia a dia da Granja Comary lições de respeito, amizade e companheirismo, sobretudo entendimento e responsabilidade.
Quando finalmente chegaram à Atenas, nada havia que lembrasse aquele grupo do primeiro encontro, senão o talento que tinham, pois agora a postura era outra, bem como as relações interpessoais. A postura em campo era de segurança e positividade.
Infelizmente a seleção brasileira não conquistou o ouro, perdendo o título para os Estados Unidos, mesmo jogando de igual para igual. Mas ficou no coração daquela comissão técnica e de todos que fizeram parte daquele projeto, que se tratava realmente de um time de ouro. Elas foram incríveis, sobretudo quando se permitiram viver aquela transformação, para se tornarem não somente melhores atletas, mas se tornarem pessoas melhores.
Após René Simões o futebol feminino do Brasil jamais deixou de ser visto com o respeito que merece o futebol brasileiro.
 
* Vânia Azevedo, Prof. Aposentada da SEED e Universidade Tiradentes; escritora; Thauan Fonseca – Mestrando em História (UFRB)
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