O volume de apreensões de drogas em Sergipe surpreende a Polícia Federal
PF diz que Sergipe serve de corredor para o tráfico
Publicado em 24 de julho de 2013
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br
As cidades sergipanas próximas à divisa com Alagoas e Bahia, bem como as que são atravessadas pelas BRs 101 e 235, estão servindo como "corredor" para passagem de drogas como maconha, cocaína e crack. Esta é a conclusão da Polícia Federal, ao fazer um balanço das apreensões de drogas realizadas neste ano pelo órgão em Sergipe. Desde janeiro deste ano, foram apreendidos 52,5 quilos de cocaína, 94,5 quilos de crack e 3.761,5 quilos de maconha.
Além das drogas e de três armas de fogo, foram também apreendidos seis carros e três caminhões usados no transporte das drogas. 26 pessoas foram presas, sendo 24 em flagrante. O balanço divulgado ontem já inclui duas apreensões realizadas neste final de semana, as quais resultaram em 24 quilos de crack apreendidos com dois homens.
No sábado, na BR-101, em Japaratuba (Vale do Cotinguiba), os federais interceptaram uma picape Fiat Strada com placas de Paulo Afonso (BA) que transportava nove quilos de crack escondidos na caçamba. O baiano Cleberson Gleicson dos Santos, 24 anos, que dirigia o carro, tentou fugir da barreira, mas foi logo interceptado pelos policiais, que acharam a droga durante a revista. A PF informou que, durante o interrogatório, Cleberson admitiu que estava a caminho de Aracaju, mas não revelou onde obteve a droga, nem para quem a revenderia.
Já no domingo, na SE-206 (Rota do Sertão), em Canindé do São Francisco (Sertão), foi a vez de os agentes pararem uma perua GM Zafira com placas de São Paulo, onde foi achado um fundo falso que escondia 15 quilos de crack. O veículo estava com o paulista Cláudio Rodrigues da Silva, 43, que já foi processado em seu estado por crimes de roubo e receptação. O acusado teve seu carro revistado porque os policiais perceberam "excesso de nervosismo" dele durante a abordagem. O fundo falso, segundo as investigações, era acionado por um dispositivo elétrico. Em seu interrogatório, Cláudio não revelou detalhes sobre a origem e destino da droga, nem soube explicar os motivos de sua viagem a Sergipe.
A maioria dos casos registrados em 2013 deu-se em investigações e blitze de rotina nas cidades de Cristinápolis (Sul), Simão Dias (Centro-Sul), Japaratuba e Canindé. De acordo com o delegado Daniel Horta Alves, chefe do Núcleo Regional de Combate ao Crime Organizado da PF, praticamente todas as encomendas de drogas apreendidas nestas cidades teriam outras regiões como destino, como a Grande Aracaju, o Agreste e até mesmo estados como Alagoas e Pernambuco.
"A droga está de passagem por ali. A gente apreende uma quantidade muito grande de entorpecentes nessas cidades, mas isso não quer dizer que toda essa droga vai pra aquele município. É porque esses municípios estão em uma rota de tráfico. A quantidade é tão alta que o consumo é diluído pelo estado todo, pois a droga é distribuída. As apreensões deste final de semana com certeza confirmam isso. Há uma rota de tráfico de entorpecentes por Sergipe", diz Horta, citando como exemplo a apreensão do Zafira com 15 quilos de crack. "A droga foi apreendida na posta de Capim Grosso. Ela possivelmente estava indo para Paulo Afonso, ou para a região. Não seria consumida em Canindé, mas ela passou por lá", explica.
Apesar de haver a rota do tráfico, a PF não nega que boa parte das drogas apreendidas em Sergipe acabam sendo consumidas no próprio estado, tanto em Aracaju quanto no interior. "Infelizmente, Sergipe é um mercado consumidor de entorpecentes, porque tem muita coisa que vem pra cá. A gente sabe que tem várias cidades no interior do estado que estão com um consumo alto de drogas e vivenciam um problema sério de tráfico", diz o delegado, que coloca o crack como uma das substâncias mais procuradas pelos viciados. "O crack é a droga que mais ofendem a população. Todas elas têm seu poder de nocividade, mas o crack cria um problema social muito grande, porque tem um poder lesivo altíssimo, chega a transformar a pessoa em um zumbi", alerta Daniel.
Nos dois casos registrados no fim de semana, a Polícia Federal instaurou inquéritos policiais para apurar quem são os fornecedores e destinatários dos entorpecentes apreendidos. Cleberson Gleicson e Cláudio Rodrigues foram indiciados pelo crime de tráfico interestadual de entorpecentes e podem ser condenados a até 25 anos de prisão.