Luzeiro, de Raphael Borges: Não teve impacto
Pra tudo quanto é gosto
Publicado em 04 de maio de 2013
Por Jornal Do Dia
* Anderson Bruno
Cresce o número de produções audiovisuais em Sergipe. Sempre que posso tento acompanhar as exibições. E não são poucas. Realizadores e produtores se empenham para viabilizar sessões de seus filmes. E a cada matinê é perceptível o nível profissional das pretensas projeções. Essas ações movimentam e mantêm viva a chama do otimismo em elevar os patamares fílmicos do Estado. Penso que estamos num bom caminho.
No último dia 16 de abril, Raphael Borges fez o (re) lançamento de ‘Luzeiro’ (2013, SE, 24 min). O curta havia sido exibido no dia 26 de dezembro, com 15 minutos de duração. Desta vez, com nove minutos adicionais. A ficção, ambientada na cidade de Lagarto, foi certeira ao sair da capital. Mas sua história, um tanto batida, não teve a força pretendida. O material ficou bem editado, a naturalidade quase documental das personagens foi bastante bem vinda, a tentativa de paralelo com a cultura folclórica dos Parafusos foi legal, mas no geral, sua crítica social e capitalista ainda ficou sem o grito de perplexidade proposto. Não teve impacto.
‘A Mão que Borda’ (Caroline Mendonça, SE, 2013, 15 min), exibido no último dia 19 de abril, foi até a cidade de Cedro de São João, região leste do Estado. O documentário expôs o trabalho das bordadeiras da cidade como um ponto de destaque do município. Mais que isso: a produção mostra o quão importante é a manufatura dentro do convívio familiar (muitas vezes ultrapassada pelas gerações), para a renda dos envolvidos e como terapia. O doc também destaca os segredos da produção até seu destino final: a venda.
Por vezes bem humoradas, as bordadeiras também evidenciam a parte podre dessa beleza: a falta de incentivo e a desvalorização da mão-de-obra local. Com uma cenografia bem acabada e boa direção da realizadora, ‘A Mão que Borda’ conseguiu equilíbrio entre a passionalidade e a documentação do tema central em suas várias etapas.
‘Os Gritos da Rua Barão’ (Marlon Delano, 2013, SE, 06 min), com estréia via canal You Tube, é uma peça de terror no seu estilo clássico. Uma fotografia (muito) escura, suspense, trilha sonora soturna, gritos. A tímida exploração da solidão da primeira personagem, envolto numa lúgubre e deserta (avenida) Barão de Maruim, tirou um pouco do medo pretendido, bem como a ansiedade em mostrar logo o interior da casa geradora dos sôfregos e femininos gritos. O alongar do passo a passo do processo da descoberta, do então mundo desconhecido e sombrio da casa mal assombrada, poderia render uma dose mais certeira de suspense. A repetição das cenas com a segunda personagem era dispensável. Boa utilização da técnica de efeitos.
Mesmo sendo um material feito para uma disciplina da Universidade Federal de Sergipe, o curta ‘#Remix’ (Nathan de Souza, 2012, SE, 4 min) é inebriante. Exibido no último dia 24 de abril, na UFS, o filmeto evidencia relações humanas, mais do que os simples rótulos hétero, homo ou lesbo. Num tom de experimentação com ágil edição, trilha sonora lisérgica, projeção de imagens e uma voz de fundo (muito parecida com a linha explicativa do vocal do famigerado ‘Ilha das Flores’, de Jorge Furtado), a produção consegue aliar mensagem contemporânea (social, moral e sexual) em toda a sua linguagem técnica e estética. Um grande filme.
Temos curtas para todos os gostos. Só não vê quem não quer.
* Anderson Bruno é crítico audiovisual.