Sem médicos, Carreta da Mulher não sai de Aracaju

Milton Alves Júnior

Por ausência de profis sionais da medicina, a  ‘Carreta da Mulher’, adquirida no ano passado pelo Governo de Sergipe com investimento orçado em mais de R$ 3,8 milhões, segue estacionada no pátio do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), em Aracaju, sem circular pelos demais 74 municípios e atender aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) conforme inicialmente anunciado. Ao JORNAL DO DIA a situação foi denunciada na manhã de ontem por membros do grupo Mulheres de Peito. Segundo dados apresentados pela Organização Não Governamental (ONG), desde o lançamento público, o veículo apenas deixou a cidade de Aracaju no mês de outubro, quando realizou atendimentos no município de Itabaianinha.
Fora esse episódio, diariamente a carreta tem disponibilizado profissionais atuantes nas áreas de mamografia, ultrassonografia e ginecologia; 150 atendimentos, sendo, em média, 50 acolhimentos para cada uma das competências declaradas. De acordo com a representante da ONG, Sheyla Galba, o grupo tem buscado dialogar com a administração estadual para debater o assunto e pedir que o projeto comece a ser disponibilizado no interior sergipano. Ela diz reconhecer a importância dos atendimentos realizados em Aracaju, mas enaltece que o povo contribuinte residente fora da capital também precisa se atendido.
"Infelizmente é uma situação delicada. Se muitas vezes vocês não conseguem ouvir os gestores realmente responsáveis por esse descaso com os milhões de sergipanos que moram no interior, nós também não conseguimos. Quando esse encontro finalmente acontece, a informação que nos passam é que faltam médicos. Parece até resposta pronta de gestão pública brasileira que não consegue resolver uma demanda como essa. O atendimento aqui em Aracaju é positivo sim, mas precisa, assim como foi prometido no ano passado, também ser realizado no interior", avaliou Sheyla. Este veículo foi fabricado para a realização de exames e diagnósticos do câncer de mama.
Em 07 de maio do ano passado o Governo do Estado informou que a carreta estaria estacionada no CAISM e à disposição dos usuários do SUS até o dia 10 do mesmo mês. Ainda de segundo lamentações apresentadas pelo grupo Mulheres do Peito, desde então os equipamentos seguem estacionados no mesmo local, sem realizar atendimento itinerante. "Sempre achamos que não era preciso lembrar, mas já que parece necessário, lembramos aos gestores estaduais que a função dessa carreta é atender mulheres que não têm condições financeiras ou psicológicas de fazer o exame, nem se deslocar de cidades do interior e vir para Aracaju", relatou Galba que completou ressaltando:
 "Estamos no século XXI, mas  o machismo, por exemplo, continua presente e esse tipo de atendimento nas cidades interioranas serviria para acolher aquelas mulheres que os maridos não deixam ser examinadas, mulheres que tem medo de fazer o exame porque é dolorido, mulheres que nem sequer têm dinheiro para os exames. Enfim, mulheres dependentes de uma ação social. Coisa que o governo não está fazendo."

Contraponto – A direção da SES confirmou que a circulação das carretas pelo interior do Estado permanece indisponível em razão da falta de profissionais em número suficiente para a atividade. A fim de minimizar esse cenário, em março de 2019 abriu um credenciamento, mas que infelizmente, houve pouco interesse por parte dos profissionais da saúde. Diante dessa situação, a secretaria informou que se deparou com a necessidade de atualizar as diárias das especialidades médicas do edital de credenciamento, mudando a forma de pagamento – que era hora fechada – para hora trabalhada e aumentando este valor. Com a mudança, a expectativa é atrair os profissionais e promover o funcionamento pleno das Unidades Móveis de Saúde do Homem e da Mulher.
Esse credenciamento permanece aberto e oferta vagas para as especialidades médicas de Cardiologia, Clínica Geral, Urologia, Ginecologia, Mastologia e Radiologia – além de enfermeiro(a), técnico(a) em enfermagem, técnico(a) em laboratório, técnico(a) em radiologia e digitador(a) de laudo.