O racismo, uma ferida aberta.
Uma questão de pele
Publicado em 26 de abril de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Lázaro Ramos ainda precisa comer muito feijão com arroz antes de poder se apresentar como um diretor de Cinema digno de menção e todos os aplausos. Mesmo assim, ‘Medida Provisória’ fatura alto na bilheteria do Cine Vitória. Sinal dos tempos, talvez. Segundo Rosângela Rocha, mantenedora do espaço, fenômeno parecido só foi visto nas estréias de ‘Bacurau’ e ‘Parasita’.
A luta de classes nunca esteve tão acirrada, ao menos em tela grande. O filme de Lázaro Ramos, por exemplo, aborda a tensão racial crescente em Terra Brasílis sem arrodeios, sem os melindres de praxe. Há contradições e buracos imensos no roteiro. Os personagens carecem de vida interior, como se um títere os manipulasse. No entanto, apesar de todos os pesares, ‘Medida Provisória’ comunica algo da maior relevância para grande parte da população – uma questão de pele.
‘Medida Provisória’ coloca, sim, o dedo numa ferida que não fecha, ainda aberta. Razão pela qual apreciações orientadas por aspectos técnicos e estéticos da produção tendem a ser varridas para baixo do tapete. Isabela Boscov, crítica de Cinema com décadas de atividade, erra a mão, amplia supostas virtudes, admite falhas de maneira muito passageira. Acerta, contudo, ao reconhecer o descaramento do racismo no Brasil. Por isso é que o filme de Lázaro Ramos é percebido de modo tão sensível por tanta gente.
Longe de mim, a intenção de fazer coro a qualquer alarde bolsonarista, acusar um diretor negro, à frente de um elenco negro, o autor de um filme ancorado na vida da população negra, de ampliar o “mi, mi, mi” identitário das redes sociais. ‘Medida Provisória’ fica muito aquém da expectativa criada pelo embate travado com o governo federal. Mas também supera a brevidade dos enunciados embutidos em simples hashtag.