Huse atendeu mais de 4 mil motociclistas acidentados este ano
Cândida Oliveira
candidaoliveira@jornaldodiase.com.br
Dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES) mostram que apenas no primeiro semestre de 2013 o Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), referência nos casos de urgência e emergência de alta complexidade em Sergipe, realizou exatos 4.164 atendimentos a vítimas de acidentes motociclísticos. No mesmo período do ano passado foram atendidas 4.148 vítimas.
A consequência da alta quantidade de motocicletas no Estado acaba refletindo no número de acidentes no trânsito envolvendo motociclistas e passageiros. Estatísticas do Departamento Estadual de Trânsito de Sergipe (Detran/SE) comprovam que a frota de motocicleta é grande no estado. Até junho deste ano havia 182.169 motocicletas licenciadas. A frota do veículo de duas rodas já se aproxima dos carros que é de 251.784 registros no órgão estadual.
No Huse, de janeiro a dezembro de 2012 foram atendidas 7.994 vítimas. Na maioria dos casos, a vítima é jovem e do sexo masculino, com idade de até 30 anos. Os acidentes, quando não matam, quase sempre deixam traumas e sequelas permanentes. Segundo o diretor clínico do Huse, Marcos Kröger, estima-se que os politraumatismos, incluídos neles os acidentes motociclísticos, representem cerca de 60% de todo o atendimento prestado pelo hospital.
Sequelas – Quem sofre um acidente de motocicleta, geralmente, sai com pelo menos um ferimento. O médico conta que as fraturas de membros – lesões ortopédicas – vêm em primeiro lugar devido à exposição dessas regiões do corpo no momento do acidente. Em segundo lugar estão os traumatismos cranioencefálicos – por causa do não uso do capacete – e os traumas tóraco-abdominais. "Importante é ressaltar que geralmente acontecem múltiplas lesões, o quê, além de levar a um maior risco de morte, complicações e sequelas aos pacientes, também leva a um maior custo financeiro e social ao sistema de saúde (custo hospitalar, custo previdenciário, custo empresarial com o afastamento do trabalhador por mais tempo e custo familiar – o paciente deixa de contribuir para o sustento da sua família)", explicou Marcos.
O homem jovem predomina nesse tipo de ocorrência, principalmente devido ao abuso do álcool, o uso de drogas ilícitas e falta de equipamentos de proteção individual, a exemplo do capacete. "Esses são fatores que agravam ainda mais a situação".
O diretor clínico chama a atenção para a presença de crianças em acidentes motociclísticos. "Nelas o acidente é sempre mais grave porque, além da não existência de equipamento como o capacete apropriado, as crianças não possuem seus reflexos totalmente formados, o que as deixa sem reação instintiva no momento da queda ou da colisão. Os pais precisam saber que responderão perante a justiça nestes casos e que o médico hoje é obrigado a denunciar – notificação compulsória – o fato ao Conselho Tutelar, para que este encaminhe a criança até a Vara da Infância para apuração das responsabilidades", explicou.
Cobrança de gastos – Marcos Kröger acredita que o Brasil precisa, além de reforçar as campanhas de conscientização, adequar as leis a essa realidade, tornando o processo de responsabilização mais forte. "Uma sugestão aos nossos parlamentares é tornar, em lei, obrigatório o exame toxicológico a todos os pacientes que derem entrada no Pronto Socorro com quadros de politraumatismos oriundos do trânsito, facilitando assim a posterior apuração e punição daqueles que teimam em desrespeitar a sua própria vida e a de seus semelhantes. Além da criação da Vara Especial da justiça cível, para cobrar desses pacientes todo o custo que, no desrespeito à lei e na prática de infração criminosa (ingestão de álcool e drogas ilícitas, excesso de velocidade na condução de veículo automotor), causaram ao sistema de saúde e à sociedade como um todo, ceifando inúmeras vidas".
Segundo um levantamento da Companhia de Polícia Rodoviária Estadual (CPRv), até junho deste ano, 134 acidentes ocorreram nas rodovias estaduais envolvendo veículos de duas rodas. Em 2012 foram registrados 244. Segundo o tenente Adelvan Silveira, subcomandante da CPRv, houve uma diminuição no número de acidentes, mas não no número de vítimas fatais – 3 mortes de janeiro a junho de 2012 e 7 mortes no mesmo período, em 2013. Dos 134 acidentes deste ano, 120 envolviam homens, jovens, com faixa etária entre 18 e 30 anos.
As rodovias estaduais com maior número de ocorrências em Aracaju são a SE 065 – rodovia João Bebe Água; SE 100 – rodovia José Sarney; SE 050 – avenida Melício Machado e no interior sergipano, a SE 235 – rodovia Lourival Batista, que dá acesso a cidade de Lagarto.
Para o subcomandante, tenente Silveira, a imprudência ainda é o grande causador de acidentes. "Alta velocidade, falta de equipamento de segurança, abuso de bebidas alcoólicas são combinações perigosas para quem utiliza qualquer tipo de veículo", diz. Ele destaca ainda outros pontos. "A educação poderia mudar a realidade das estradas sergipanas e mais rigor na formação desses condutores".