Terça, 11 De Fevereiro De 2025
       
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Tráfico puxa aumento de mulheres presas em SE


Publicado em 29 de julho de 2013
Por Jornal Do Dia


A secretária Maria Teles diz que parceiros induzem mulheres ao tráfico

Trabalho feito pelas internas do Prefem, através do Projeto Florescer

Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br

O aumento da população carcerária feminina no Brasil, constatado em pesquisa divulgada na última quinta-feira pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, também se refletiu em Sergipe. Segundo os dados fornecidos pela Secretaria Estadual de Justiça (Sejuc), 262 mulheres estão detidas atualmente no Presídio Feminino (Prefem) de Nossa Senhora do Socorro (Grande Aracaju), sendo 35 já sentenciadas a penas definitivas. Nos últimos 12 meses, entre junho de 2012 e junho de 2013, 385 presas deram entrada na unidade, sendo 228 acusadas por tráfico de drogas, 41 por furto e 37 por roubo.

Estes números são bem maiores do que os registrados em anos anteriores. Os relatórios do Infopen, o sistema de informações penitenciárias do MJ, apontam que, em dezembro de 2012, haviam 200 mulheres presas em Sergipe, contra 194 em junho de 2012, 183 em dezembro de 2011 e 141 em dezembro de 2010 – um crescimento aproximado de 90% neste espaço de quase três anos. No levantamento nacional do Depen, constatou-se que a população carcerária feminina aumentou 256% em 2012, resultando em mais de 36 mil mulheres detidas em presídios de todo o país. Entre os homens, o aumento dos presos foi de quase a metade no mesmo período: 130%.

O governo estadual informa que o total atual de presas está dentro do número de vagas do Prefem, garantindo que há trabalhos de ressocialização para elas. No entanto, ele mostra-se preocupado com o aumento de mulheres envolvidas com a criminalidade, sobretudo com o tráfico de drogas, responsável por 70% das detenções. "É uma realidade muito triste. Isso significa que o tráfico está ganhando do empenho que nossos governos estão tendo para combatê-lo", lamentou a secretária estadual de Políticas para as Mulheres, Maria Teles, que aponta a degradação familiar como uma das consequências mais fortes do crescimento do tráfico – e assegura que a mesma realidade do tráfico também é presente nos crimes de furto e roubo.

Segundo a secretária, muitas mulheres acabam sendo empurradas para o crime por causa da imposição de parentes, companheiros ou namorados já envolvidos. "O traficante, em geral, acaba envolvendo suas famílias e impõem responsabilidades na atividade, colocando-as para fazer o transporte, a distribuição e outras coisas. E nessas situações em que elas acabam presas", diz Maria, que apontou três situações de fragilidade como as que mais contribuem para o envolvimento das mulheres no crime: a financeira, a afetiva (ou passional) e a de imposição. "Em muitos casos, as mulheres acabam sendo intimidadas pelos companheiros ou por outros homens para que elas participem de tudo. Eu conversei recentemente com várias detentas e elas me relatavam que eram coagidas a participar do tráfico pelos companheiros", acrescenta.

A entrada das mulheres no crime será abordada na próxima campanha de combate à violência contra a mulher, a ser lançada em setembro próximo pela Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres (SEPM). De acordo com a secretária, os recursos para a campanha já foram liberados e as peças de divulgação estão em fase de desenvolvimento. "O tema principal é a violência doméstica, mas nós não podemos deixar de lado essa realidade imposta pelo tráfico", disse Maria Teles, frisando ainda que as políticas públicas desenvolvidas para o público feminino devem ser voltadas para a prevenção contra o crime.

Resgate – Uma aposta positiva está no trabalho de ressocialização das detentas do Prefem, considerado como positivo e eficiente. Ele prevê cursos de qualificação profissional, trabalhos de rotina e assistência social e psicológica. A Sejuc citou uma pesquisa recente do Instituto Avante Brasil para informar que o sistema prisional sergipano lidera o ranking de atividade laboral dentro do sistema prisional entre os estados do Nordeste e ocupa a terceira posição em todo o país – perdendo apenas para os estados de Santa Catarina e Rondônia. No Prefem de Socorro, 56 internas exercem atividades laborais na cozinha da unidade e em atividades de serviços gerais. Parte delas recebe uma remuneração, mas há ainda as detentas voluntárias que se apresentam ao serviço.

As outras presas participam de cursos profissionalizantes, aulas e oficinas, como cursos de artesanato (Projeto Florescer), Oficina de Teatro (Penarte), Oficina de Poesia (Projeto Florescer), Alfabetização e Reforço (Supletivo). Um curso de corte e costura do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) foi concluído na semana passada, com a entrega de certificação profissional para 18 internas que irão confeccionar uniformes e roupas utilizadas no sistema prisional.

Todas estas iniciativas integram o Projeto Novos Rumos, feito a partir de uma parceria entre a Sejuc, a SEPM e a Secretaria Estadual de Inclusão e Desenvolvimento Social (Seides). "Nós queremos, não só acolher as internas na unidade, mas também encaminhá-las para a vivência fora dos muros do Prefem e esse é o momento. Devemos aproveitar enquanto elas estão aqui, onde estão centradas, para colocá-las para aprender, e trabalhar no que aprendem também. Porque o trabalho do presídio é ressocializar e reeducar, não apenas punir. Elas vão voltar à liberdade e têm que estar preparadas para isso", afirma a diretora do Prefem, Lília Melo.

A secretária Maria Teles assegura que o índice de reincidência das mulheres do Prefem que participam das atividades é muito baixo. Segundo ela, o Prefem está dentro da capacidade adequada e não há superlotação, permitindo assim que a direção tenha condições e estrutura para aplicar esses programas com sucesso. "As internas resgatam a dignidade, a autoestima e ganham mais condições de reintegrar à sociedade. Mas há uma minoria que ainda acredita na impunidade e mantém a ilusão de que o tráfico vai lhe proporcionar alguma coisa", admite.

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