A LINEARIDADE NA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA BRASILEIRA
Publicado em 29 de fevereiro de 2020
Por Jornal Do Dia
* Manoel Moacir Costa Macêdo e Pedro Abel Vieira
Descrever o sucesso da produção agropecuária brasileira, tem sido redundante. As safras recordes, se sucedem ano após ano. Os ganhos de produtividade são crescentes. Uma vitoriosa agropecuária, no plano nacional e global. O mesmo não é verdadeiro, para os demais setores da economia. O padrão de desenvolvimento nacional é sofrível, quando comparado com outras nações, nos elementares indicadores de educação, saúde, renda, e violência.
Na linearidade, o produto agropecuário brasileiro cresceu mais de quatro vezes no período de 1975 a 2016. No mesmo lapso temporal, a produção de grãosaumentou de 40,6 milhões para 187,0 milhões de toneladas. A pecuária bovina em carcaças, saltou de 1,8 milhão para 7,4 milhões de toneladas. Os suínos de 500 mil para 3,7 milhões toneladas, e o frango de 373 mil para 13,23 milhões de toneladas. A análise do produto’per se’, traduzida no valor da produção, mostra que os maiores aumentos de 2000 a 2016 ocorreram na soja, cana-de-açúcar, laranja, banana, e frango. As chamadas commodities agrícolas. O faturamento bruto dentro da propriedade rural em 2019, foi de R$ 588,76 bilhões.
A partir de 2012, a produção agropecuária cresceu de forma linear e contínua. Em 2016 ocorreu uma pausa, atribuída à seca, que afetou principalmente a produção de milho, entretanto, no mesmo ano, a Produtividade Total dos Fatores, – PET (terra, capital, e mão de obra) cresceu a uma taxa de 1,24%. O salto da produção ocorreu pela utilização de insumos intensivos em capital, com efeitos no aumento da produtividade. O consumo de fertilizantes passou de 2,0 milhões de toneladas em 1975, para 15 milhões em 2016. Produzir e lucrar mais, com menos terra, e trabalho. A incorporação de novas áreas, de 1975 a 2016, consequência da expansão das lavouras temporárias, a exemplo da soja e milho, que cresceu de 36,8 para 69,5 milhões de hectares. As lavouras permanentes, por sua vez, estacionaram entre 5,0 e 6,0 milhões de hectares. No caso das pastagens, ocorreu a redução de área.Uma produção agropecuária lastreada em inovações tecnológicas,poupadora de ‘terra, e mão de obra’. Na década de 1970, marco inicial da introdução vigorosa do capitalismo no campo, até os anos 80,a ‘terra’ foi o principal fator de produção no crescimento do produto agropecuário. De 1980, adiante,o ‘capital’ se estabeleceu como o relevante fator de produção. Existem semelhanças entre o crescimento da agricultura dos Estados Unidos e do Brasil. De 2007 a 2015 a média de crescimento nos Estados Unidos foi de 0,53%, e a histórica, de 1,38%. No Brasil, a média de crescimento 2000 a 2016 foi de 3,17%, e a histórica, de 3,08%.
Difícil para o senso comum da cidadania, aceitar as contradições, entre a pujante produção agropecuária e a fome de brasileiros. De um lado, o Brasil tem competência para produzir uma safra de 250 milhões de toneladas de grãos. Expressivo produtor e exportador de alimentos para o mundo, em breve o maior de todos. Do outro, no seu interior, predomina a fome, e a enorme desigualdade dos seus nacionais. A extrema pobreza no Brasil, soma 13,5 milhões de pessoas, com renda de até R$ 145 reais mensais. A miséria brasileira tem específicas identidades. Ela atinge principalmente o Norte e Nordeste, a população preta e parda, sem instrução, ou com formação fundamental incompleta. A pobreza atinge também a evasão escolar. 12% dos jovens mais pobres abandonam a escola sem concluir o ensino médio. Um índice oito vezes maior que os jovens ricos.
Uma triste realidade perante à civilização, que urge ser enfrentada e rompida.Uma situação consentida e acolhida como normal pelos cristãos de uma terra marcada pelo "sinal da santa cruz". Pode-se afirmar ser mais fácil crescer linearmente na produção agropecuária, do que matar a forme dos brasileiros pobres, e romper a rochosa desigualdade. A primeira, uma escolha técnica, na "produção" promovida por agentes econômicos privados, e suas representações estatais. A segunda, uma decisão política, na "distribuição ao consumo", dependente da indignação popular, e ruptura do status quo vigente nas petrificadas estruturas da sociedade.
* Manoel Moacir Costa Macêdo e Pedro Abel Vieira são engenheiros agrônomos