Nadir, Samba de Pareia e Mussuca: uma coisa só (Melissa Warwick)
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A majestade da Mussuca
Publicado em 29 de agosto de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Rainha sem coroa, legítima, acima de ornamentos e títulos arbitrários, a majestade de Dona Nadir da Mussuca ecoa dos cafundós de Laranjeiras. Lá, num povoado incrustrado no meio do nada, ela bate o pé no chão e tudo em volta se anima.
Faz já uns bons anos, desde quando Fábio Rogério despencou até as lonjuras da Mussuca para realizar ‘Nadir’. Com uma câmera na mão e um redemoinho de ideias na cabeça, ele foi recebido de portas abertas.
Sem tempo a perder, num intervalo de poucos dias, o documentarista registrou tudo o quanto pode – cenas domésticas, cotidiano e paisagem. Somente quando Dona Nadir sobe nos tamancos, entretanto, a maravilha se revela.
Dona Nadir, o samba de pareia e a Mussuca é tudo uma coisa só. Embora a brincadeira não tenha nascido ontem, junto com a ousadia de uma senhora boa de copo, melhor ainda de alegria, a voz calejada desta negra significa sozinha o quilombo inteiro – à revelia de tudo e de todos, indiferente até à própria História.
Quem vê Dona Nadir puxando um samba, nunca deixa de se impressionar com a sua disposição para a vida. Dura na queda, ela certamente tem motivos de sobra para sorrir e chorar, como todo mundo (em uma breve passagem, o documentário supracitado o revela). A sua tenacidade, no entanto, jamais trai o dom da existência. Ela canta, dança, faz mágica, por assim dizer, expulsa o mal para longe, outras terras.
Dona Nadir é a prova muito viva de que a Cultura pode e deve extrapolar os territórios. No seu próprio chão, nos palcos e eventos onde é convidada a pisar duro, a Mussuca cresce e aparece, ganha corpo, fala alto. E o documentário de Fábio Rogério amplia a potência do gesto ancestral, numa simbiose perfeita de Cinema e Política.