As mulheres na política: Senadora, deputadas federais e estaduais e vereadoras por Aracaju (I)
Publicado em 03 de junho de 2025
Por Jornal Do Dia Se
* Afonso Nascimento
Este artigo é a sequência de texto anterior (NASCIMENTO, Afonso. As mulheres na política: as prefeitas sergipanas. In Jornal do Dia, Aracaju, 12.05.2025) sobre as mulheres na política sergipana, em que as prefeitas foram o objeto de meus comentários, tomando por base livro sobre as mulheres em espaços de poder (SALMERON, Igor et al. Mulheres nos espaços do poder. Perfis e Trajetórias. Aracaju: Imprensa Oficial de Sergipe, 2024). Informo que não incluí no primeiro artigo os nomes de Eliane Aquino, importante política sem mandatos, e Marília Mandarino, ambas vice-governadoras e respectivamente esposas de Marcelo Déda e César Mandarino.
Neste novo bloco de comentários, trato das elites parlamentares femininas no Senado, na Câmara dos Deputados, na Assembleia Legislativa e na Câmara Vereadores de Aracaju. Informo que os atuais números de representação parlamentar feminina são os seguintes: duas mulheres entre oito deputados federais, cinco entre 19 deputados estaduais e quatro entre 26 vereadores em Aracaju. No total, são 11 mulheres. Em 2025, não existe representação de mulheres no Senado.
Aqui estou interessado em usar as informações mesmo “incompletas” nele contidas para, através de meus comentários, entender um pouco a classe política feminina sergipana. Agruparei os pequenos textos biográficos sobre as mulheres na política sergipana em três conjuntos: as políticas na esfera federal (uma senadora e três deputadas federais), na esfera estadual (22 deputadas estaduais) e na esfera municipal de Aracaju (22 vereadoras). Vou diretamente ao assunto.
A presença das mulheres sergipanas no Senado é parte de uma história que começou em 1999 e “parou” em 2023 com os três mandatos da senadora Maria do Carmo do Nascimento Alves. Quanto à representação feminina na Câmara dos Deputados, Tânia Soares deu largada em 2001 e, depois de alguns anos só com representantes masculinos, em 2023, continuou Katarina Feitosa e Yandra Barreto Ferreira ou Yandra Moura.
Tenho alguns comentários sobre essas quatro mulheres. Maria do Carmo Alves é a mais importante política da direita feminina de Sergipe e, junta com as deputadas federais, sempre fez parte do “baixo clero” em Brasília. A senadora era empresária e mulher do prefeito de Aracaju e governador de Sergipe João Alves Filho. Ela e o marido foram grandes apoiadores do regime militar. A senadora ainda se destaca por suas práticas nepotistas e por seu clientelismo político. Maria do Carmo Alves, Katarina Feitosa e Yandra Moura possuem formação jurídica, enquanto Tânia Soares é formada em Jornalismo.
Maria do Carmo Alves e Tânia Soares tiveram militância política estudantil na UFS. Katarina Feitosa ocupou o cargo de delegada da Polícia Civil antes de ser eleita vice-prefeita de Aracaju e em seguida deputada federal. Já Yandra Moura exerceu advocacia antes de ocupar o atual posto de deputada federal. Entre Tânia Soares e as outras parlamentares existe uma divisão ideológica muito forte. A primeira fez política ligada a um partido de extrema-esquerda, ao passo que as demais ficaram no campo da direita estadual. Considero que as atuais deputadas federais estão “em estágio probatório”, por não saber se terão futuro na política sergipana.
Em relação às mulheres na política enquanto deputadas estaduais, a sua história dessa esfera política já possui algum caminho trilhado, pois a professora Quintina Diniz foi a primeira mulher eleita deputada estadual em 1934. A segunda deputada estadual foi Núbia Macedo, eleita em 1954, esposa do líder populista Francisco de Araújo Macedo, de Estância.
Até 2025, foram eleitas 20 deputadas estaduais. A esses números acrescentarei os nomes de Suzana Azevedo e de Angélica Guimarães que só apareceram no livro na lista das conselheiras do Tribunal de Contas de Sergipe, totalizando 22 políticas.
Ana Lúcia Vieira Menezes é a mais importante política da esquerda sergipana. A sua carreira de quatro mandatos está ligada à sua militância junto ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Sergipe (Sintese). Pertence a uma ala radical do Partido dos Trabalhadores (PT) e foi eleita e reeleita contando, majoritariamente, com os votos dos professores da rede estadual de ensino.
Identifiquei no grupo das deputadas estaduais uma profissional da política. Trata-se de Suzana Azevedo, uma política com pai e tio políticos. É formada em Direito pela Unit. Antes de ser eleita e indicada para ocupar o emprego de conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE), ela teve sete mandatos, sendo dois como vereadora e cinco como deputada estadual. Hoje, na condição de presidente do TCE, ela está entre as mulheres mais poderosas de Sergipe.
Angélica Guimarães declarou no livro que praticava “medicina filantrópica”. Não deve ser a única entre as políticas que são médicas e fazem política trabalhando em hospitais privados, clínicas e consultórios e usando a profissão para construir clientelas eleitorais. Até agora, apenas Angélica Guimarães foi presidente da Assembleia Legislativa. Ela foi prefeita de Japoatã e é mulher do ex-deputado estadual Vanderbal Marinho.
À exceção de Conceição Vieira, todas as demais deputadas estaduais são mulheres brancas. Sobre a escolaridade das deputadas estaduais, talvez duas não possuam diplomas superiores e duas tenham cursos técnicos. Vale notar que a maioria de seus diplomas superiores (História, Letras, Geografia, Enfermagem, Administração, Pedagogia, etc.) não pertencem aos “cursos de elites” de universidades e faculdades.
O preconceito contra as mulheres na política é referido por várias deputadas estaduais e a maioria fala em defesa dos direitos das mulheres. A legislatura atual vive a lamentável discriminação contra uma deputada transexual Linda Brasil. Não sei o que as suas colegas de parlamento disseram a esse respeito. É deputada por um partido radical de esquerda, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e também já foi vereadora por Aracaju.
O cristianismo católico predomina entre as deputadas estaduais – embora esse dado não tenha sido destacado pelas deputadas biografadas. Não encontrei nenhum caso de deputada evangélica, condição geralmente deixada explícita por seguidoras de igrejas evangélicas. A grande maioria das deputadas estaduais vem de cidades do interior. A classe social de origem das deputadas estaduais é média e alta, afinal elas fazem parte das elites sociais de suas cidades. Conceição Vieira faz parte do grupo feminino que conheceu a mobilidade social vertical.
As preferências partidárias das deputadas estaduais são pelos partidos de direita (PSC, PFL, PSD, DEM, REPUBLICANOS, PODEMOS, PMDB, PL, PT DO B etc.). Somente dois partidos de esquerda elegeram deputadas estaduais, mais precisamente, PT e PSOL. O nepotismo direto e indireto é uma festa nacional, garantida pelo STF. Cada deputada estadual tem direito a diversos assessores.
O lugar central da família na vida política das deputadas estaduais é inegável. Com efeito, elas são bisnetas, netas, irmãs, filhas, sobrinhas, mães, noras, sogras, avós e esposas de homens políticos. Eis aqui algumas famílias políticas que funcionam como bases eleitorais das carreiras dessas políticas sergipanas. A família Franco de Laranjeiras elegeu Celinha Franco e Venúzia Franco – sem falar da vereadora Miriam Ribeiro, uma vereadora “afilhada” dessa família laranjeirense. Lagarto é um espaço com duas famílias políticas, mais precisamente, a família Reis (Goretti Reis) e a família Ribeiro (Luiza Ribeiro, Áurea Ribeiro). De Itaporanga d´Ajuda, destaco a família Garcez Sobral (Gracinha Garcez). Lidiane Lucena, de Aquidabã, vem da família Azevedo Carvalho, cujo bisavô, Milton Azevedo, foi interventor federal da ditadura de Vargas em Sergipe e cuja bisavó, Lizete Azevedo, ocupou o cargo de interventora de Aquidabã no mesmo período. É tia da atual prefeita de Aquidabã.
Foram encontradas deputadas estaduais que se declararam ser empresárias (Josefa Áurea, Janier Mota). Elas fazem como os homens na política, combinando a atividade empresarial com seus empregos políticos. Há também políticas estaduais casadas com empresários.
Apresento agora algumas deputadas que são filhas de prefeitos: Maria Mendonça, Josefa Ribeiro, Celinha Franco, Goretti Reis. Continuo com as esposas de prefeitos: Núbia Macedo, Sílvia Fontes, Venúzia Franco, Lidiane Lucena, entre outras. A ex-deputada estadual Lila Moura é um caso interessante: foi mulher de político (Reinaldo Moura), mãe de político (André Moura) e avó de política (Yandra Moura).
Posso indicar as seguintes deputadas estaduais que foram secretárias de governo e de Estado: Ana Lúcia, Celinha Franco, Carminha Paiva, Gracinha Sobral Garcez, Luiza Ribeiro, Sílvia Fontes e outras mais.
Tratando agora da política local de Aracaju, a primeira mulher eleita vereadora por Aracaju foi Maria Carmelita Cardoso Chagas, em 1950, por indicação do senador Leite Neto, do antigo PSD. Ficou nove anos no mandato na Câmara de Aracaju. Até 2025, foram eleitas 20 vereadoras por Aracaju. Aqui também preciso adir os nomes de Suzana Azevedo e Linda Brasil.
Sendo Aracaju o principal centro universitário de Sergipe, faz sentido que nessa cidade se concentre mais fortemente o movimento estudantil e foi dele que saíram duas vereadoras que estudaram na UFS, mais precisamente, Tânia Soares e Karla Trindade. Ambas estavam ligadas ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Lucimara Passos, também do PCdoB, teve militância estudantil no Espírito Santo.
Aracaju também é o maior centro de meios de comunicação de Sergipe, onde estão localizadas emissoras estaduais de rádio, de TV, de jornais etc. Não causa surpresa que mulheres que trabalharam como radialistas e apresentadoras de TV tenham conquistado mandatos de vereadoras. São os casos de Nazaré Carvalho e de Emília Correa, quando esta foi vereadora, e de Daniela Fortes. Nazaré Carvalho merece destaque porque ocupou o mandato de vereadora por 19 anos, ganhando visibilidade popular em função de seus programas de rádio e de TV de Aracaju.
Os evangélicos são um grupo em ascensão na política brasileira. Em Aracaju, foram eleitas, até hoje, quatro mulheres evangélicas, nomeadamente, Nilza Santana, Daniela Fortes, Emília Correia e Moana Valadares. Por enquanto, as vereadoras católicas ainda formam a maioria na Câmara Municipal de Aracaju.
Também pude observar um pequeno número de vereadoras ligadas a partidos de esquerda, a saber, Rosângela Santana e Ângela Melo (PT) e Sônia Meire e Linda Brasil (PSOL). Novidade na atual legislatura da Câmara de Vereadores de Aracaju é a chegada de uma mulher de extrema-direita, bem como na prefeitura de Aracaju. Anotei ainda que três vereadoras foram lideranças sindicais: Rosângela Santana, ligada ao Sindicato dos Profissionais do Ensino do Município de Aracaju (Sindipema) e à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Ângela Melo e Sônia Meire com vínculos com o Sintese e à Adufs.
* Afonso Nascimento, professor de Direito da UFS