Homens descarregam carne clandestina na madrugada de ontem no Mercado Albano Franco
Carne clandestina continua sendo comercializada no Mercado
Publicado em 02 de setembro de 2013
Por Jornal Do Dia
Milton Alves Júnior
miltonalvesjunior@jornaldodiase.com.br
Na calada da noite, sem condições básicas de higiene e em meio à falta de investimentos qualificativos por parte da Prefeitura de Aracaju, carne clandestina continua sendo entregue no Mercado Albano Franco, Centro da capital. Imunes de qualquer tipo de fiscalização por parte da Guarda Municipal, agentes da Vigilância Sanitária, ou mesmo de fiscais da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb), órgão que administra o espaço, a partir das duas da madrugada carros oriundos de diversos municípios sergipanos estacionam com centenas de quilos de carne bovina que são transportadas em uma carrocinha sem refrigeração e coberta apenas com plásticos. Pela segunda vez em menos de um ano o Jornal do Dia flagrou essa atividade inconstitucional.
Conforme vem sendo divulgado na mídia local, o governo municipal está trabalhando para oferecer produtos de ampla qualidade nutricional aos consumidores. Todas as segundas-feiras, por exemplo, os departamentos de carnes e pescados são temporariamente interditados para uma ‘lavagem geral’. Apesar desses esforços, é perceptível que o serviço deve ser reforçado, principalmente nos dias que antecedem as feiras no Albano Franco. Sem querer se identificar, um dos carregadores afirmou que esse tipo de atividade é realizada há mais de cinco anos. "Sabemos que é errado, mas o que vamos fazer? Ficar desempregado? Não tem fiscalização, e o que o patrão manda fazer, a gente faz", disse. Questionado quanto a procedência da carne, ele preferiu também não informar.
Na tentativa de evitar uma possível fiscalização por parte da Polícia Rodoviária Federal (PRF), outro carregador fez um alerta: "Os homens (agentes da PRF) estão parando todo mundo que para eles é suspeito. Como esse horário é menos movimentado, pouco eles estão parando, por isso que a gente está aqui. Mas se pegar, rola multa e a carga é apreendida", afirmou. Outro carregador ressaltou a facilidade em realizar com sucesso as entregas após cruzar as fronteiras da capital. "O problema é chegar a Aracaju. Chegou aqui, pronto, estamos em casa e aliviados por saber que é quase impossível alguém parar a gente e apreender a carga".
Com o objetivo de não ser flagrado e possivelmente multado, a placa policial da carrocinha estava coberta pelo mesmo plástico que encobria as carnes, e a do carro, quase apagada. O corsa de cor prata e final de placa 6322 passou aproximadamente 30 minutos estacionado na lateral do mercado, e se mostrando tranquilo, o condutor do veículo deixou o local dentro da velocidade exigida pelo Código de Trânsito Brasileiro. A fim de buscar a opinião dos consumidores, já no período da manhã a equipe de jornalismo retornou ao mercado, dialogou com a população e apresentou as imagens.
Para o engenheiro químico Alberto Cremer, devido a cenas dessa natureza que a população está evitando promover compras no local. "Estou aqui porque há anos conheço o meu vendedor e sei do cuidado que ele tem para revender os produtos. Aqui compro frutas e verduras, mas carne e os alimentos marítimos faz tempo que não adquiro nessa nojeira. Quem sabe isso aqui mude", afirmou. Compartilhando com a crítica do engenheiro, o petroleiro aposentado Fernando Alves lamentou a situação, mas defendeu alguns feirantes. "O que me deixa preocupado é que nem todos estão revendendo carnes que são transportadas desse jeito. O prefeito João Alves tem que começar a agir pra evitar que todos os vendedores sejam julgados como ‘porcos’".
No início desse ano, após inspeções do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Sergipe, Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema) e Vigilância Sanitária, foram constatadas diversas irregularidades, entre elas: condições inadequadas para comercialização de alimentos, ausência de projeto de prevenção de incêndio, comercialização de animais, falta de higiene; Diante da precariedade do local, o Ministério Público Estadual exigiu reparos imediatos e oficializou o pagamento de multa em caso de descumprimento do TAC – Termo de Ajustamento de Conduta.
Oposto – Apresentando realidades totalmente diferentes, na madrugada da última sexta para o sábado, exatamente no momento em que o carro clandestino foi flagrado, dois caminhões frigoríficos também descarregavam peças de carne. Devidamente vestidos de jalecos e utilizando luvas higienizadas, quatro pessoas promoviam a locomoção das carnes do caminhão para as bancas dos vendedores. "Pra vocês verem como esse trabalho de fiscalização não é tão difícil. Por que uns realizam o serviço certo e outros não? Não adianta tentar tapar o sol com a peneira. Uma fiscalização mais rigorosa deve ser feita pela prefeitura pra não prejudicar a saúde do povo. A irregularidade está na nossa cara, mas ninguém faz nada", disse a nutricionista Rosa Linhares.
Justificativa – Procurada pelo Jornal do Dia, a direção da Emsurb informou que o serviço de fiscalização do comércio e procedência dos alimentos é de responsabilidade da Vigilância Sanitária Municipal, departamento ligado a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Também questionados sobre a irregularidade, os gestores da SMS informaram através da Assessoria de Comunicação que todas as vezes que esse tipo de clandestinidade é flagrado pelo órgão municipal, os envolvidos são encaminhados para a delegacia ainda em posse da mercadoria. Quanto a falta de agentes de segurança e fiscalização na procedência dos alimentos que são descarregados nas madrugadas, a Prefeitura de Aracaju não se manifestou.