O vereador precisou ser hospitalizado
CLIMA EM CAPELA FICA MAIS TENSO
Publicado em 29 de setembro de 2012
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br
Um vereador da cidade de Capela (Agreste) foi espancado por três homens e teve seu carro incendiado na noite de anteontem em um matagal no povoado Saúde, zona rural do município. O taxista José Roberto Lemos Rosa, o "Neném Taxista", 46 anos, candidato à reeleição pelo DEM e primo do senador Eduardo Amorim (PSC), está internado no Hospital Primavera, em Aracaju, com escoriações causadas pelas agressões sofridas. "Neném" diz ter sido vítima de uma tentativa de homicídio e atribuiu as agressões a pessoas ligadas ao atual prefeito de Capela, Manuel Messias ‘Sukita’ (PSB), o qual negou envolvimento com episódio.
A Polícia Civil tomou duas decisões relacionadas ao caso. Pela manhã, destacou dois delegados para investigar os fatos relacionados ao ataque a José Roberto: o delegado de Capela, Rodrigo Espinheira, e o chefe operacional da Coordenadoria de Polícia do Interior (Copci), Hildemar Lima Rios. A coordenadora da Polícia do Interior, Viviane Pessoa, informa que a polícia já colheu alguns depoimentos e inicia a instauração do inquérito policial. O suposto autor do delito está foragido, mas a polícia iniciou buscas na tentativa de capturá-lo.
À tarde, o secretário de Segurança Pública, João Eloy de Menezes, decidiu reforçar as equipes especializadas da Polícia Militar e transferir a sede da Delegacia Regional de Maruim para Capela, para melhorar a estrutura cartorária e aumentar as diligências policiais no município. A transferência já vale a partir desta segunda-feira e dura por todo o período eleitoral.
A agressão ao candidato teria acontecido por volta de 19h30, quando ‘Neném’ saiu do sítio de sua mãe, em Saúde, e voltava para a sede de Capela. A abordagem aconteceu na saída do povoado, quando um carro VW Gol de cor prata atravessou a pista e impediu a passagem do táxi. Neste momento, dois homens armados retiraram o taxista do veículo e o colocaram no Gol, atingindo-o com socos e pontapés. O veículo seguiu para um lugar mais deserto e, ao chegar, Roberto foi retirado do carro e novamente agredido, por mais de uma hora. Além dos socos e dos chutes, os agressores usaram paus, pedras e até chicotes feitos com cipó caboclo.
O candidato disse ainda que, no meio da sessão de espancamento, sentiu um líquido ser derramado em seu corpo, que ele não identificou. Depois, ele relatou ter ouvido o seguinte diálogo entre os agressores:
– Toque fogo nele!
– Não! Não toque não. Não precisa tocar fogo não!
– Oxente, rapaz! É pra tocar fogo nele!
– Não, deixe ele vivo aí.
– Eu não vou matar. Só faço bater.
Depois disso, José Roberto correu pelo canavial e o trio foi embora depois de colocar fogo no táxi da vítima, que explodiu e ficou totalmente destruído. "Me escondi e fiquei no canavial umas ‘duas horas de relógio’ (sic), até que o meu pessoal apareceu, me procurando", disse o candidato, ainda desnorteado e falando com dificuldade, em entrevista à Rede Ilha. O mesmo disse ter ouvido, após o ataque, uma música de campanha que provoca os adversários de Sukita chamando-os de ‘caranguejos’. "Eles botam essa música todo dia pra gente, dizendo que os ‘caranguejos’ que não forem embora de Capela vão cair todos no cipó-caboclo, porque lá, a lei só vale pra gente e eles podem fazer tudo", afirmou o taxista, referindo-se aos partidários do prefeito.
Ao ser socorrido, "Neném" reclamava de muitas dores e não conseguia se mexer. O candidato foi levado para o Hospital São Pedro de Alcântara, em Capela, onde deu entrada com escoriações e crise de pressão alta. Após ser estabilizado, o paciente foi transferido para o Hospital Primavera, na capital. Segundo a assessoria do senador Eduardo Amorim, ele permanece internado em observação e aguarda o resultado de exames, pois há a suspeita de hemorragias e ferimentos internos.
Irmão envolvido? – Na entrevista à Rede Ilha e no depoimento aos policiais, "Neném Taxista" disse ter identificado dois homens como os autores do ataque. Um deles, segundo a vítima, é "Adauto Pitbull", um dos irmãos do prefeito Manoel Sukita, a quem Roberto atribuiu a ordem para queimá-lo. À tarde, Sukita negou o envolvimento do irmão com a agressão e alegou que Adauto estava em sua companhia ao longo de todo o dia, montando estruturas e organizando um comício na cidade, ocorrido na noite de ontem.
Sukita disse também que "Neném Taxista" pode ter fingido que foi vítima do espancamento, inclusive disse que o taxista é problemático. "Ele tocou fogo em um carro dele mesmo, para receber o dinheiro do seguro, um dia desses", declarou ao site "F5 News". Mais cedo, falando à "Megga FM", o prefeito capelense acusou os partidários de Eduardo Amorim de "criar um fato político" com a história da agressão e anunciou que vai ao Ministério Público Eleitoral para pedir garantias de vida, além de cobrar "uma apuração rigorosa" do episódio.
No outro lado, Amorim aumentou a carga contra Sukita e também procurou a polícia. Ao saber do episódio com o primo, após um comício em Simão Dias (Centro-Sul), ele telefonou ao comandante da Polícia Militar, coronel Maurício Iunes, e pediu providências rápidas para prender os agressores. No dia seguinte, depois de acompanhar "Neném", o senador foi tratar do caso na SSP e na Polícia Federal, onde o mesmo acusou Sukita de fazer-lhe ameaças através da "Megga FM", emissora arrendada ao prefeito de Capela. Uma queixa foi formulada e um inquérito deve ser aberto pela PF para apurar as ameaças.
Não foi o primeiro – O episódio de anteontem acirrou ainda a rixa política entre Sukita e Amorim, que protagonizam uma troca pública de acusações desde o início da campanha eleitoral. Em menos de uma semana, este foi o segundo incidente policial envolvendo a disputa eleitoral no município. No domingo passado, um agente da Polícia Civil e um policial militar reformado atropelaram um animal em uma rodovia estadual de acesso ao município. Na ocasião, os policiais dirigiam um VW Voyage locado pela SSP, que foi encontrado em um ferro-velho na cidade de Nossa Senhora das Dores, onde seria possivelmente desmanchado.
Em meio a este incidente, houve uma seqüência de confusões envolvendo partidários dos dois candidatos a prefeito de Capela: o atual prefeito Manoel Sukita, apoiador da candidata Josefa Paixão (PSB), afirmou que os policiais estavam a serviço do candidato adversário, Ezequiel Leite Neto (PR). Sukita alegou também que fora ameaçado pelos policiais e que a situação só se resolveu quando ele comunicou o fato diretamente ao governador Marcelo Déda. A Corregedoria da Polícia Civil abriu inquérito para apurar este fato.