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DESIGUALDADE NO BRASIL [I]


Publicado em 24 de fevereiro de 2024
Por Jornal Do Dia Se


Manoel Moacir Costa Macêdo

O Produto Interno Bruto – PIB, parâmetro de riqueza, coloca o Brasil como a nona economia do planeta. Revelação de pujança no concerto das duzentas nações reconhecidas pela Organização das Nações Unidas – ONU. Exemplo clássico de diferença entre crescimento e desenvolvimento. O primeiro, a quantidade de riqueza produzida, mas concentrada em poucas mãos. O segundo, a expressão de desigualdade e pobreza. Elementar conclusão: País rico, mas desigual.
O Relatório Global Wealth Report 2023, mostrou que “quase metade da riqueza do Brasil, 48,4%; está nas mãos de apenas 1% da população. Desigualdade maior que na Índia, com 41%; Estados Unidos, 34,3%; China 31,1%; e Alemanha 30%”. No dizer do poeta o “avesso, do avesso”.
Entre os setores expressivos da riqueza brasileira, destaque para o setor agrícola. Produtor e exportador de alimentos na forma de commodities agrícolas no mercado global. Mais de uma centena de países e quase um bilhão de pessoas consomem os produtos agrícolas nacionais. A lógica continuada do século passado, sob o julgo da ditadura militar: “exportar é o que importa”. Nação rica em água, solo, energia limpa, gente criativa, ciência, tecnologia, e fomento alavancaram em menos de meio século, o status de importador, para produtor e exportador de produtos agrícolas. Não se desconhece o feito, embora seja moralmente injustificável que “mais da metade, 58,7% da população brasileira conviva com a fome e a insegurança alimentar”.
“Os Ricos e os Pobres: Brasil e a desigualdade”, obra da lavra do professor Marcelo Medeiros, trabalho de fôlego, metodologia refinada, evidências e inovadora nos conceitos, traz informações que assombram a persistente e vergonhosa desigualdade brasileira. Realidade que afronta a cristandade majoritária na sociedade, a democracia, a alegria, a miscigenação, e a criatividade da brava gente pátria.
Numa população de mais de duzentos milhões de habitantes, menos da metade, identifica-se como economicamente ativa. Revela Medeiros que “cerca de um quinto dos adultos do Brasil não possui renda monetária alguma, [o equivalente] a quase 30 milhões de adultos”. Inova o autor, ao dizer, que no caso brasileiro, “o mais adequado é pensar no plural, em desigualdades de renda: desigualdade entre famílias, entre indivíduos, entre trabalhadores ou entre grupos sociais, desigualdades entre salários, rendas totais ou rendas per capita”.Em comum, a abismal desigualdade, que parece não ter fim, somente início e meio.
Na pluralidade dos desiguais, as diferenças ultrapassam a simplificação setorial, para alcançar a diversidade social. A “ruralidade como uma característica da extrema pobreza”. As portas do desenvolvimento para os “negros, não são estreitas, elas estão fechadas, e não vão se abrir sozinhas […] há uma interação perversa entre educação e raça: a educação dos negros é menos valorizada […] a condição das mulheres negras é ainda pior”.
Mostra Medeiros, que “para cada doutor há quase quatro presos”. Imediata abstração: temos presos demais ou doutor de menos, ou vice-versa. Prendemos muito e socializamos pouco, ou quase nada. Possuímos a terceira população carcerária do mundo, em torno de oitocentos mil brasileiros e brasileiras, encarcerados em masmorras, excluídos e invisíveis da produção e da civilização. “População desproporcionalmente grande, algo perto de 0,5% dos adultos”, que não produzem e assentam na conta da desigualdade.
“Desigualdade tem a ver com riqueza, não com pobreza”. Evidências estão postas. Pela geografia ou pela sociologia, somos muito desiguais. Até quando? [MEDEIROS, M. Os ricos e os pobres: o Brasil e a desigualdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2023].

* Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo e advogado.

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