Depois, nunca mais (Divulgação)
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Em pleno domingo
Publicado em 21 de agosto de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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A campanha eleitoral me persegue. Domingo, desavisado, fui abduzido por uma carreata na zona norte de Aracaju. O barulho, a sujeira, a lentidão do tráfego, a simpatia ensaiada dos candidatos poluíram o meu entusiasmo democrático.
A estratégia dessa gente desafia o entendimento. Há algo de autoritário em convocar a militância para fazer barulho, sob pena de acabar com o sossego dos trabalhadores surpreendidos por algazarra indesejada no recesso do próprio lar.
O sujeito apertou parafusos a semana inteira, martelou pregos, deu aula para turmas com mais de 50 estudantes a custo de perder a voz. Tinha direito a descalçar os sapatos e cochilar em frente à TV, entorpecido com os desafios milionários propostos por Luciano Huck. Mas os protestos de competência e honestidade proferidos do alto do trio elétrico lhe tomaram preciosos minutos de paz.
As carreatas não passam de uma demonstração de força, tão estúpidas quanto qualquer demonstração de força costuma ser. Ninguém liga, ninguém se emociona com uma dezena de carros enfileirados, soltando fumaça pelos escapamentos, auto-falantes e buzinas a mil. Não há beleza nos berros e apelos surrados de um candidato praguejando a esmo. No rastro de uma carreata, invariavelmente, jaz o pensamento, o diálogo, a esperança, a civilidade atropelada no chão.
É verdade, relata-se, aqui, o nome e a sigla partidária do suplicante, por razão objetiva: a barulhenta carreata do último domingo foi convocada pela candidatura governista. Em verdade, entretanto, o volume desproporcional dos carros de som, alarido forçado, exalta políticos de todos os matizes políticos e estirpes, sem distinção. Ontem foi Luiz Roberto. Amanhã, Emília Correia e Yandra Moura devem dar o ar da graça, sem falta. Será assim até outubro. Depois, nunca mais.